Título: No governo, há falta de consenso sobre adesão
Autor: Duarte, Patrícia; Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 23/12/2007, Economia, p. 39

Estabilidade política e econômica são vantagens do Brasil.

BRASÍLIA. Dentro do governo, justamente pelo tempo que ainda falta para as obras efetivamente começarem na área de Tupi, poucos se arriscam a falar sobre as vantagens políticas do Brasil e a sua adesão ou não à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Técnicos ligados ao assunto chegam a argumentar que o governo, quando Tupi estiver em operação, pode vir até a decidir não exportar para poupar as reservas. Mas essa opção é pouco provável, já que o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a dizer que o país poderia aderir à organização.

No Congresso, a avaliação é que o assunto tem de ser debatido com cuidado. Para o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), afinado com o Executivo e um dos conselheiros de Lula, a discussão sobre a adesão à Opep é muito prematura. Porém, ele concorda que o Brasil tem vantagens competitivas:

- Há mais de um século não há conflitos (políticos) no Brasil, temos estabilidade econômica e uma democracia consolidada. São valores essenciais que nos diferenciam.

O economista da RC Consultores Fábio Silveira também está na lista dos que acham que o Brasil não deve entrar para a Opep, e vai além: ele lembra que o país precisa de fortes investimentos em outras fontes energéticas, com destaque para o etanol e os demais combustíveis renováveis. E fazer parte de um cartel pode ser prejudicial neste processo.

- A Opep foi criada para que os países produtores de petróleo pudessem se proteger. O Brasil tem uma economia diversificada, não precisa disso - argumenta ele, defendendo que o Brasil assuma uma postura independente, como faz a Noruega, grande exportador de petróleo que não integra a Opep.

Exportação de químicos traria mais benefícios

Diante da vantagem política que o Brasil tem frente a outros exportadores de petróleo, acrescenta o economista-chefe do Dresdner, Nuno Camara, o país deve atrair mais recursos e, por isso, precisa manter o rumo na condução da política econômica, com rigor fiscal. Apesar de a exploração efetiva de petróleo em Tupi somente ocorrer a longo prazo, os especialistas já começam a colocar sobre a mesa outras questões importantes que envolvem o assunto.

Para o diretor da Datagro, Plinio Nastari, cabe ao Brasil discutir o modelo a ser seguido no desenvolvimento do setor energético, que passa pela definição dos preços básicos dos derivados.

- O Brasil precisa escolher se quer ser um exportador de petróleo ou de produtos químicos e petroquímicos. A segunda opção é a ideal, e, por isso, não seria recomendável entrar para a Opep. (Patrícia Duarte e Eliane Oliveira)