Título: Vítimas de arbitrariedades
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 25/12/2007, O País, p. 3

Grupo recebe orientação desde o campo de Ruweished.

SÃO PAULO. Antes de chegar ao campo de Ruweished, na Jordânia, o grupo de palestinos que veio para o Brasil vivia no Iraque. Muitos, na realidade, são iraquianos, sem a cidadania. Apenas os mais velhos nasceram na Palestina. Eles tiveram que abandonar o país após a ocupação americana e a queda do regime de Saddam Hussein, em 2003. Os palestinos tornaram-se vítimas de prisões arbitrárias, assassinatos, desaparecimentos e torturas por parte de milícias armadas.

Muitos conseguiram fugir para a Jordânia e a Síria, onde foram abrigados precariamente em campos na fronteira com o Iraque, em meio ao deserto. Com a decisão do governo brasileiro de receber os palestinos, o campo de Ruweished foi fechado. Na Jordânia, os palestinos não eram reconhecidos pelas autoridades locais e, por isso, não tinham segurança nem liberdade. Eles não tinham sequer o direito de entrar e sair do acampamento, salvo em casos de emergência, sempre acompanhados pela polícia.

As condições do campo de Ruweished, localizado no deserto jordaniano, a 70 quilômetros da fronteira, eram precárias. A região é infestada por cobras e escorpiões, e havia tempestades de areia. As variações climáticas são constantes durante todo o ano.

No Brasil, os refugiados passaram por exames médicos de rotina e tiveram sua documentação regularizada. O grupo continua recebendo orientação cultural, que foi iniciada no próprio campo de Ruweished, numa iniciativa conjunta do Conare e dos escritórios do Acnur no Brasil e na Jordânia.

Eles foram reassentados nos estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul, onde o Acnur trabalha em parceria com as ONGs Cáritas Brasileira e Associação Antônio Vieira (Asav). Eles recebem uma ajuda inicial para aluguel de moradia, compra de móveis e assistência material, além de aulas de português. Em 2008, as crianças devem começar a freqüentar escolas brasileiras. Muitos jovens, no entanto, ainda não sabem falar ou compreender o português.

Os palestinos são o maior grupo de refugiados recebido de uma só vez pelo Programa de Reassentamento Solidário, criado para receber refugiados que escapam de conflitos armados ou violência generalizada e que não podem continuar no país de primeira acolhida.

O programa regional de reassentamento foi desenvolvido no contexto do Plano de Ação do México, uma estratégia conjunta de proteção aos refugiados na América Latina e assinado por 20 países da região em 2004, inclusive o Brasil.

Atualmente, o maior grupo de reassentados é composto por vítimas de conflito armado na Colômbia. O reassentamento é uma medida de proteção que oferece um ambiente mais seguro para os estrangeiros que continuam enfrentando ameaças, perseguições e problemas de integração no país de refúgio.

De acordo com o Conare, o Brasil tem cerca de 3.390 refugiados reconhecidos, provenientes de 69 países diferentes. Grande parte (78%) vem do continente africano, e os angolanos formam a maior população (1.684 pessoas). As estimativas, no entanto, apontam que somente no estado do Amazonas estejam vivendo entre 15 mil e 17 mil colombianos. (Soraya Aggege)