Título: Famílias de vítimas da TAM cobram justiça
Autor: Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 25/12/2007, O País, p. 4

Quase seis meses após o acidente, elas convivem diariamente com a tragédia e pedem mais pressa nas investigações.

SÃO PAULO. Passam-se os meses, mas a dor não passa. O choque do Airbus da TAM contra um prédio da empresa, no dia 17 de julho, ao varar a pista molhada e sem ranhuras do Aeroporto de Congonhas, ainda é uma tragédia cotidiana na vida de pelo menos 199 famílias. Para tentar se refazer ou entender o que aconteceu naquele dia, essas famílias, em uma luta incansável por justiça, se valem de orações, revolta, remédios, grupos de apoio, médicos e psicólogos.

Enquanto isso, a Polícia Civil terá de fechar o ano sem ouvir dois dos principais nomes do episódio: a ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu, que conseguiu adiar seu depoimento por duas vezes, e o ex-presidente da Infraero José Carlos Pereira. O depoimento do brigadeiro foi pedido por carta precatória (para ser feito à distância), mas ainda não ocorreu.

- O advogado de Denise Abreu entregou-nos um atestado dizendo que ela foi operada no dia 14 e ficará de repouso por 15 dias - disse o delegado Antonio Carlos Menezes Barbosa, sexta-feira, segurando uma lista de perguntas a serem feitas à ex-diretora da Anac.

Para o delegado, a ex-diretora tem de esclarecer se havia ou não a proibição de pouso com o reverso pinado na pista de Congonhas. Barbosa já pediu que seja ouvido o então gerente de Padrões de Avaliação de Aeronaves da Anac, Gilberto Schittini. O funcionário afirma que a instrução suplementar IS-RBHA 121-189 estava em vigor quando ocorreu o acidente.

O documento impõe regras para pousos e decolagens em dias de chuva. A IS foi publicada em janeiro passado no site da Anac e entregue pela própria Denise à Justiça Federal como o principal documento para liberação de Congonhas. Depois do acidente, no entanto, a ex-diretora da Anac afirmou que o documento não era válido.

- Ela não vai ficar doente para sempre. E estaremos aqui, esperando por ela - diz Christophe Haddad, pai de Rebeca, de 14 anos, morta no acidente.

"Temos fé e não vamos desistir"

Primeiro-secretário da Associação dos Familiares e Amigos de Vítimas do Vôo TAM JJ3054 (Afavitam), Haddad deposita as esperanças no inquérito policial, que deve ser encerrado em maio. Por enquanto, são 5.200 páginas, centenas de laudos, inclusive um sobre a pista.

- Acreditamos que vamos esclarecer o que aconteceu naquele dia. Temos fé nisso e não vamos desistir. Agora, se os responsáveis serão presos ou não, se será feita Justiça, eu já não sei - diz Haddad.

Enquanto aguardam as investigações da Polícia Civil, do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), da Polícia Federal e do Ministério Público, as famílias lutam em outras frentes. Mandaram cartas indignadas aos parlamentares da CPI do Apagão Aéreo que aceitaram convites da TAM para um espetáculo em Brasília, insistem numa reunião com líderes do Congresso, fazem protestos na rua, nos aeroportos e, semana passada, foram desejar Feliz Natal aos funcionários da TAM.

- Fomos desejar algo que não teremos. Eu digo que essa dor, essa tristeza, já faz parte de mim - diz Eliane Mello, viúva de Andrei Mello, de 42 anos.

Eliane se empenha para que o local do acidente, onde ficava o prédio da TAM Express, seja transformado num memorial. O corpo de seu marido nunca foi identificado, assim como o de um bebê e o de uma comissária de bordo.

- As pessoas precisam lembrar que 199 pessoas morreram ali. Meu marido está enterrado ali. Meu Deus, aquilo foi um assassinato! - revolta-se Eliane.