Título: O melhor Natal da década
Autor: Rodrigues, Lino; D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 27/12/2007, Economia, p. 23

Shoppings têm movimento até 12% maior e faturamento deve chegar a R$68 bi.

Ovarejo de todo o país comemorava ontem os resultados das vendas no Natal, que, ao que tudo indica, foi o melhor da década. Embaladas pelo aumento do consumo de classes de menor renda, pela redução dos juros e pela expansão do crédito e dos prazos de pagamento, as vendas dos 644 shopping centers do país neste Natal foram entre 10% e 12% maiores que as de 2006, o melhor desempenho dos últimos dez anos, segundo a Alshop, associação que reúne os centros de compras. Como resultado, a entidade estima que o faturamento do setor deverá fechar 2007 em R$68,4 bilhões, 13,43% a mais que no ano passado.

Nos shoppings do Rio, a expectativa de crescimento de vendas é de 12% a 17% em dezembro em relação ao mesmo período de 2006. Computadores portáteis, roupas e eletroeletrônicos foram os itens mais procurados.

- Este Natal teve todos os fatores da economia ajudando - disse Nabil Sahyoun, presidente da Alshop.

Ele destacou ainda a queda do dólar, que reduziu o preço dos importados em cerca de 30%, e os investimentos na ampliação e construção de shoppings. Somente este ano, informou Sahyoun, estão sendo investidos R$3,5 bilhões em novos shopping centers, que já resultaram na inauguração de 3.497 lojas:

- É o melhor momento em termos de novos empreendimentos e expansão do setor de shoppings dos últimos cinco anos.

Venda de última hora impulsiona comércio

Segundo a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o movimento médio de vendas à vista e a prazo entre 1º e 25 de dezembro subiu 7,9%, o maior índice para o período desde o Natal de 1997.

- O movimento de vendas é generalizado, atinge todas as faixas de preços e produtos. O comércio está vendendo bem, desde produtos de R$1,99 a veículos - disse o economista Emílio Alfieri, da ACSP.

O movimento surpreendeu o superintendente do Botafogo Praia Shopping, Alexandre Barros:

- Iniciamos o Natal com a expectativa de aumentar o faturamento em 10%, mas os resultados atuais já demonstram que essa alta pode alcançar os 15%.

A loja carioca Farm, de moda feminina, registrou crescimento de 52% nas vendas na filial do Rio Design Barra e 17% na do Rio Design Leblon, em comparação ao mesmo período de 2006, informou Marcello Bastos, proprietário da rede. Na Afghan, do Botafogo Praia Shopping, o aumento de vendas em relação ao ano passado, até ontem, era de 20%:

- Acreditamos que é possível superar essa marca com as vendas desta semana. Muitos clientes vêm trocar e acabam levando outras peças.

Para os técnicos da Serasa, as compras de última hora, as promoções e as facilidades de crédito mantiveram o crescimento das vendas do comércio durante o fim de semana e a véspera do Natal. O Indicador Serasa Nível de Atividade do Comércio registrou alta de 9,9% nas vendas em todo o país no fim de semana de 21 a 23, sobre o período de 22 a 24 de dezembro de 2006. Somente na segunda-feira (24), o crescimento foi de 8,5% em relação à mesma data de 2006. Na semana entre 18 a 24 de dezembro, houve aumento de 5,3%.

O movimento registrado pode ser considerado bom, já que houve crescimento sobre uma base forte: em 2006, a alta nas vendas no fim de semana do Natal tinha sido de 9%.

A transferência de renda para a classe C no governo Lula explica o boom deste Natal, segundo Ulysses Reis, professor do MBA de Varejo da Fundação Getulio Vargas (FGV).

- Apesar de a classe B também ter consumido mais, a classe C corresponde a 43% dos consumidores. Por isso, quando ela passa a consumir mais, há um maior reflexo na economia - disse Reis, acrescentando que lojas que aceitam parcelamento, hipermercados e comércio popular são o principal alvo da classe C. - Por esse motivo, acredito que os pequenos e médios varejistas não tenham tido um desempenho tão favorável quanto as grandes redes.

Estudo feito pelo Programa de Administração de Varejo (Provar), da USP, em parceria com o Canal Varejo, destaca Cláudio Felisoni, mostra que os bons números do comércio estão mais relacionados à expansão do crédito e à redução dos juros do que ao aumento da renda:

- O aumento da renda real é relativamente discreto. Enquanto isso houve uma redução significativa dos juros, hoje em torno de 3% ao mês no financiamento direto ao consumidor, e do prazo médio de pagamento, que aumentou 22%.

Trocas movimentarão varejo esta semana

Mas Felisoni espera um 2008 menos aquecido:

- Em janeiro de 2007, o comércio viveu uma prorrogação do Natal que não deve acontecer este ano. Além disso, sem querer ser pessimista, para 2008 já há uma expectativa de inflação maior e um cenário internacional menos favorável. Tudo isso deve levar a um freio na redução da Selic (taxa básica de juros da economia) e, conseqüentemente, da demanda.

Um dia após o Natal, a médica Renata Bertino, de 25 anos, estava de volta ao shopping Rio Sul, onde havia feito suas compras. Desta vez, o objetivo era trocar presentes e comprar roupas para o réveillon:

- Este ano comprei mais presentes, e mais caros. É fato que gastei mais, mas também trabalhei mais. Sou dermatologista e aumentou muito neste fim de ano o número de clientes querendo ficar mais bonitas.

Consumidores como Renata devem continuar fazendo a alegria do varejo esta semana.

- O Natal termina dia 31 dezembro - afirmou Daniela Paladini, gerente comercial do Shopping Nova América.

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