Título: Sete dos 13 processados ainda estão vivos
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 27/12/2007, O Mundo, p. 28

Advogado revela que toda a linha de comando de cada um dos dois crimes foi acusada pela Justiça italiana.

SÃO PAULO. Dos 13 brasileiros com ordem de prisão decretada pela Justiça italiana por terem colaborado com o seqüestro e desaparecimento de dois ítalo-argentinos em 1980 no Brasil, durante a Operação Condor, sete ainda estão vivos e morando em Rio, Porto Alegre e Florianópolis. Outros seis já morreram, entre eles o ex-presidente da República João Figueiredo e o ex-chefe do SNI Octávio Medeiros. Segundo o advogado gaúcho Jair Krischke, testemunha do procurador italiano Giancarlo Capaldo, que investiga a morte de pelo menos 25 pessoas com cidadania italiana por militares sul-americanos durante a Operação Condor, apesar de não poderem ser extraditados, serão presos caso deixem o Brasil, pois a Interpol foi comunicada da ordem de prisão da Justiça italiana. Porém, eles deverão responder a processo no Brasil por tortura, desaparecimento de pessoas. O crime de homicídio, segundo ele, já estaria prescrito. Os crimes foram cometidos em 1980, depois da Lei da Anistia, em 1979.

- Fui o responsável pela lista dos brasileiros denunciados pela Justiça italiana. Me correspondo com freqüência com Capaldo. A lista foi feita a partir da hierarquia militar do país e dos comandantes militares responsáveis por Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, onde desapareceram dois cidadãos ítalo-argentinos seqüestrados no Brasil e mortos possivelmente na Argentina, depois de torturados: os guerrilheiros montoneros Horacio Domingo Campiglia e Lorenzo Ismael Viñas. Campiglia foi preso no Rio e Viñas, no Rio Grande do Sul.

Krischke é testemunha de Capaldo desde 7 de dezembro de 1999, quando foi a Buenos Aires prestar o primeiro depoimento à Justiça italiana, que investigava a morte dos ítalo-argentinos. É também advogado das famílias dos argentinos.

O advogado Krischke, presidente do Movimento Justiça e Direitos Humanos, denunciou as autoridades militares que comandavam o Brasil em 80: o ex-presidente João Baptista Figueiredo (já morto); o general Walter Pires, ex-ministro do Exército (já morto); o general Octávio Medeiros, ex-chefe do SNI (já morto); o general Euclydes Figueiredo, então comandante do I Exército no Rio (já morto). Pelo desaparecimento de Campiglia no Rio foram denunciados o ex-superintendente da PF no Rio, Agnello de Araújo Brito (ele estaria morando no Rio); e Edmundo Murgel, ex-secretário de Segurança do Rio (continua morando no Rio, mas não se conhece seu paradeiro).

Pelo desaparecimento de Viñas no Rio Grande do Sul foram denunciados, além dos irmãos João e e Euclydes Figueiredo, Pires e Medeiros, o general Antonio Bandeira, então comandante do III Exército no Rio Grande do Sul (já morto); o coronel Carlos Alberto Ponzi, então chefe da Segunda Seção do SNI no Rio Grande do Sul (está aposentando morando em Porto Alegre); o general Luiz Henrique Domingues, então chefe do Estado Maior do III Exército (mora no Rio); o coronel Luiz Macksen de Castro Rodrigues, então superintendente da PF gaúcha (já morto); João Leivas Job, então secretário de Segurança do Rio Grande do Sul (mora no Rio Grande do Sul); Átila Rohrsetzer, então diretor da Divisão da Central de Informações do Rio Grande do Sul (hoje mora em Florianópolis); e Marco Aurélio da Silva Reis, ex-delegado da PF no Rio Grande do Sul que hoje mora em Porto Alegre.

- Eles poderão ser processados pela Justiça brasileira. O Supremo não concederá a extradição, mas terá que comunicar a Procuradoria Geral da República para abrir processo contra cada um deles. Poderão ser processados no Brasil pelos crimes de tortura, que não prescreve, e pelo crime de desaparecimento de pessoas, que também não prescreve, porque o crime continua até que a pessoa apareça, o que não vai acontecer pois os corpos sumiram - disse Krischke.

O único crime dos brasileiros que já prescreveu, segundo Krischke, seria o de homicídio.

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), disse ontem que considera importante a decisão da Justiça italiana de processar envolvidos na Operação Condor, porque serão explicitados os crimes cometidos na época.

- Houve realmente naquela época uma espécie de organização terrorista no âmbito latino-americano que não foi nada folclórico. Foi uma organização de repressão atuante - disse Serra, que disse não saber detalhes da decisão judicial.

COLABOROU Higino Barros, de Porto Alegre