Título: Colômbia dá aval para Chávez libertar reféns
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Fonte: O Globo, 27/12/2007, O Mundo, p. 30

Operação inclui aviões venezuelanos, helicópteros com símbolo da Cruz Vermelha e representantes internacionais.

CARACAS. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, declarou-se ontem pronto para dar início ao processo de libertação de três reféns da guerrilha colombiana, recebendo momentos depois sinal verde de Bogotá. No Palácio de Miraflores, em Caracas, ele apresentou um plano para que aviões e helicópteros recolham os seqüestrados na Colômbia, acrescentando que os governos de Brasil, Cuba, França, Equador, Bolívia e Argentina garantiram seu apoio ao processo e ofereceram a presença de emissários para facilitar a transparência da operação.

Enquanto Chávez falava, em Bogotá o vice-chanceler venezuelano Rodolfo Sanz entregava ao governo colombiano uma solicitação formal pedindo a autorização para a operação aérea, para levar ao território venezuelano Clara Rojas, seu filho, Emmanuel, e a ex-deputada Consuelo González. Momentos depois, Bogotá anunciou que aceitava a proposta com a condição de que as aeronaves fossem identificadas com o símbolo da Cruz Vermelha, e que estava nomeando o alto comissário para a Paz, Luis Carlos Restrepo, como seu representante na operação.

- A única coisa que nos falta é a autorização do governo colombiano para que inicie a operação humanitária - disse Chávez pouco antes. - Se a operação for iniciada amanhã (hoje) de manhã, eles podem estar livres antes do anoitecer.

Chávez pede que Ingrid tenha coragem

Chávez explicou que já tem aviões e helicópteros prontos para partir para a Colômbia, em cinco pontos da Venezuela, entre eles La Fría (no estado de Táchira) e Guasdualito (em Apure). De algum ou de vários deles partiriam caravanas aéreas que se reuniriam no aeroporto de Villavicencio, no departamento colombiano de Meta. Ali ficariam os aviões e partiriam os helicópteros até o ponto de encontro com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) - mantido em segredo.

- Nós estamos atendendo às exigências das Farc. Se mudarmos algo, isso obrigaria a mudar a fórmula e esperar não se sabe quantas semanas mais - disse o presidente venezuelano.

Chávez não participará pessoalmente da caravana. Ele designou o ex-ministro do Interior Ramón Rodríguez Chacín como coordenador da operação.

Pouco depois, o chanceler colombiano, Fernando Araújo, anunciou que Bogotá aceitava a proposta e agradeceu a Chávez por seu interesse. A decisão foi tomada após uma reunião do presidente Alvaro Uribe, por teleconferência, com Araújo, Restrepo e o ministro do Interior, além de autoridades militares. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR) também se mostrou disposto a colaborar.

- Há um momento crítico que é a entrega dos reféns, temos que permitir que o grupo guerrilheiro os entregue e que regresse à selva. Esperamos que nada ocorra - disse Chávez. - Oxalá haja logo outro grupo de libertados e que venha nossa amiga Ingrid (Betancourt).

Ao se referir à ex-senadora colombiana, que apareceu muito magra num vídeo das Farc, Chávez disse acreditar que seu estado de saúde não seja grave e pediu que Ingrid tenha coragem. O presidente se disse ainda disposto a retomar as negociações se Uribe autorizar.

Famílias comemoram possível libertação

Concretizando-se, a operação representará uma importante libertação unilateral, em meio a um conflito interno de quatro décadas. Na semana passada, as Farc anunciaram que libertariam os três reféns como ato de desagravo a Chávez, que foi afastado das negociações por Uribe em novembro. Eles fazem parte de um grupo de 45 seqüestrados que a guerrilha quer trocar por presos.

A notícia foi recebida com entusiasmo pelas famílias dos reféns.

- Parece-me um bom plano - disse Ivan Rojas, irmão de Clara.

- Se Deus quiser, vamos tê-los logo em casa. Queria que pudéssemos ir nesses helicópteros para recebê-los na selva - contou Patricia Perdomo, filha de Consuelo.