Título: Até o dia 31, às 18h, vai ter gente batendo aí
Autor: Jungblut, Cristiane; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 28/12/2007, O País, p. 9

Ministro reconhece assédio, mas diz que cronograma é normal.

BRASÍLIA. Ontem, o ministro José Múcio teve até a ajuda do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), para conversar com os parlamentares. O vice-líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), atuante na questão do Orçamento, também esteve com o ministro, no Palácio do Planalto. Os parlamentares apresentam emendas para obras, geralmente em seus redutos eleitorais.

- Já tinha uma lista de emendas feita. De um modo geral, o atendimento já tinha sido decidido e já está sendo implementado. Mas há problemas em alguns pedidos. Eu mesmo estou resolvendo problemas de documentação dos municípios que apresentei. É uma correria - contou Ricardo Barros, que estava ontem em Brasília.

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse que tudo está sendo feito pelo governo dentro de um cronograma normal, sem açodamento neste fim de ano, apesar da mobilização no gabinete de José Múcio.

- Não temos essa política. Estamos fazendo isso com o PAC e outros investimentos. Estamos liberando as emendas parlamentares em função do limite que foi dado ao ministro José Múcio e da negociação que ele teve. Não temos nenhuma política além disso. Mas até dia 31, às 18h, vai ter gente batendo aí - admitiu Paulo Bernardo.

Além de Jucá e Barros, José Múcio recebeu ontem os deputados Aníbal Gomes (PMDB-CE), que fora semana passada, e Arnon Bezerra (PTB-CE).

- Até aqui, não foi liberado nada. É um absurdo segurar as emendas, ainda mais com ameaças de que no próximo ano serão cortadas. O governo pode ter dificuldade no Congresso - advertiu, semana passada, o deputado Aníbal Gomes, que voltou ontem ao Planalto.

Ideli: "Paulo Bernardo faz terrorismo, mas libera tudo"

Antes do recesso, a líder do PT, senadora Ideli Salvatti (SC), tentou acalmar os aliados e garantiu que não haveria cortes:

- O Paulo Bernardo segura as emendas para fazer um terrorismo para depois liberar tudo. Todo mundo vai soltar fogos neste fim de ano.

O corte nas emendas ao Orçamento de 2008 é uma das alternativas para compensar a perda de arrecadação de R$40 bilhões, devido ao fim da CPMF. Segundo o relator da proposta orçamentária de 2008, deputado José Pimentel (PT-CE), as emendas individuais já somam R$4,8 bilhões e as chamadas emendas coletivas ou de bancada chegam a R$12,9 bilhões. Alguns defendem o corte nas coletivas, o que economizaria R$12 bilhões.

- A idéia não é praticável. Do que adianta o Orçamento ir para o Congresso se os parlamentares não puderam dar suas opiniões? - disse Ricardo Barros.

Depois de derrubar a CPMF, o PSDB apresentou como alternativa um corte linear de 60% nos valores das emendas de bancada, direcionando os recursos para a saúde, área mais afetada com o fim do tributo.

- Fizemos a proposta, mas Mas o líder (Jucá) não foi muito otimista - disse o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), durante as negociações que culminaram no fim da CPMF.

O Orçamento de 2008 só será votado em fevereiro, quando o Congresso voltará do recesso e o governo definirá os cortes para compensar o fim da CPMF.