Título: BC e analistas não vêem folga em 2008
Autor: D'Ercole, Ronaldo; Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 28/12/2007, Economia, p. 17

Relatório de Inflação prevê índices muito próximos do centro da meta, de 4,5%.

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O Brasil vai fechar 2007 e começar o próximo ano com crescimento econômico mais robusto, de pelo menos 4,5%, mas com o fantasma da inflação rondando. É o que mostra o Relatório de Inflação trimestral, divulgado ontem pelo Banco Central (BC), que trouxe perspectivas mais agudas sobre os indicadores de inflação de 2007 a 2009 que o documento anterior, de setembro. Dependendo do cenário adotado, são cálculos que até ficam acima do centro da meta de inflação do governo, de 4,5%. Para analistas ouvidos pelo GLOBO, apesar do alerta, o BC aliviou um pouco a expectativa de parte do mercado de que pudesse elevar a taxa básica de juros em 2008, a fim de conter o processo inflacionário.

- (O relatório) Não surpreendeu, mas organizou melhor as avaliações de risco - resumiu o economista-sênior da Unibanco Asset Management, José Luciano Costa, para quem o BC vai cortar novamente a Selic, hoje em 11,25% ao ano, para 10,75% em 2008.

O relatório deixou claro que a pressão inflacionária não está restrita aos alimentos. O diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita, citou como exemplo os aumentos de preços no setor de serviços. Pesa ainda o possível descompasso entre o crescimento do consumo e o da oferta de produtos.

Dentro do cenário de referência (com Selic constante a 11,25% ao ano), o BC projeta que o IPCA fechará 2007 a 4,3%, 0,3 ponto percentual a mais que no relatório anterior, de setembro. Para 2008, a projeção passou de 4,2% para 4,3% e, pela primeira vez, foi divulgada a estimativa para 2009: 4,2%. Já dentro do cenário de mercado, as estimativas do BC para o IPCA de 2007 passaram de 3,9% para 4,3%, patamar mantido nas projeções de 2008. Para 2009, no entanto, a projeção é de 4,7%, acima do centro da meta.

Mesquita ressaltou que o cenário internacional, com a crise imobiliária dos EUA, também pode influenciar negativamente, na medida em que as importações - que vêm atendendo a parte da demanda interna - podem diminuir com uma desaceleração da economia mundial.

- O BC reforçou seu discurso sobre a preocupação sobre a trajetória de inflação com o descasamento entre a oferta e a demanda - disse o economista-chefe do WestLB no Brasil, Roberto Padovani.

Com relação ao Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país), o BC elevou suas projeções para 2007 de 4,7% para 5,2%. Para 2008, o crescimento estimado é de 4,5%, a primeira estimativa feita para o período e de acordo com o mercado.

- Há espaço para índices como o IGP-M caírem, porque os preços dos alimentos não devem subir tanto. Mas a demanda vai continuar forte lá fora - disse Luiz Fernando Azevedo, economista da Rosenberg & Associados, que trabalha com IPCA de 4,4% em 2008.

Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da Fundação Getulio Vargas (FGV), concorda que a inflação ficará bem mais próxima do centro da meta.

- Não haverá mais folga como aconteceu até agora - disse Quadros, que prevê um "ano difícil" para a política monetária.

Mesquita frisou que as expectativas do BC não levam em consideração possíveis mudanças fiscais com o fim da CPMF.

"NÓS NÃO APOSENTAMOS O BC", DIZ MINISTRO PAULO BERNARDO, na página 18