Título: Peso na inflação do aluguel
Autor: D'Ercole, Ronaldo; Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 28/12/2007, Economia, p. 17

Influenciado por alimentos, IGP-M, índice que reajusta contratos, sobe 7,75% no ano.

Com alta de 1,76% em dezembro, o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), da Fundação Getulio Vargas (FGV), encerrou o ano com alta de 7,75%, a maior desde 2004. O resultado, mais que o dobro dos 3,83% de 2006, deve pressionar os reajustes de aluguéis, que têm no IGP-M o principal indexador, provocando intensas negociações entre inquilinos e proprietários em 2008. Os preços agrícolas, particularmente de alimentos, foram os grandes vilões do IGP-M no ano, tanto no atacado quanto no varejo.

Dos 7,75%, cinco pontos percentuais são da cadeia agroalimentar. Do Índice de Preços por Atacado (IPA), que compõe o IGP-M e fechou o ano com alta de 9,19%, soja, milho e bovinos responderam por 4,36 pontos percentuais. Da variação de 4,64% do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), os alimentos responderam por 2,7 pontos percentuais. No IPA, enquanto os produtos agrícolas fecharam o ano com aumento médio de 24,22%, a alta dos produtos industriais foi de 4,24%. No IGP-M, a soja subiu 38,71% e o milho, 51,27%.

- A procura por milho para a produção de etanol nos EUA deflagrou uma corrida por grãos no mundo - disse o coordenador de análises econômicas da FGV, Salomão Quadros.

O reflexo chegou aos preços das rações, que subiram 27,41% no ano, o que explica em boa parte a alta de 23,42% da carne bovina no atacado. Ainda no atacado, o feijão subiu 192,81% no ano e a batata inglesa, 80,28%. O leite em pó teve alta de 51,91%.

A designer de bolsas Carmem Ramirez calcula que, na comparação com 2006, seus gastos no supermercado subiram cerca de 15%:

- Muitos produtos subiram de preço. E produtos do dia-a-dia. Ano passado, o leite custava perto de R$1, e hoje passa de R$1,50. O arroz era vendido em média por R$6 o pacote de cinco quilos, e agora é quase o dobro.

Segundo Quadros, as maiores pressões sobre os alimentos vêm do mercado internacional, mas a demanda interna aquecida também contribui. O economista diz que a situação requer atenção, mas que não há uma aceleração generalizada dos preços.

Para o consultor imobiliário Moacyr Oliveira, o percentual do IGP-M pode não ser repassado integralmente aos aluguéis. Vai depender se o imóvel está ou não em área de grande procura e da renda do inquilino.

COLABOROU Erica Ribeiro