Título: Viajantes do Senado
Autor: Colon, Leandro
Fonte: Correio Braziliense, 24/04/2009, Política, p. 3

Magno Malta e dois assessores consumiram em apenas um ano R$ 200 mil em diárias e passagens aéreas por conta da CPI da Pedofilia. Clima é de mal-estar na Casa. Magno Malta justifica os gastos: ¿Meus assessores entendem a legislação. Foi um trabalho produtivo¿ O que é para ser uma comissão parlamentar de inquérito de sete senadores virou um trio, composto por um parlamentar e dois assessores, responsável pelo gasto de R$ 200 mil em passagens e diárias em um ano de investigação. Há um clima de constrangimento dentro do Senado por causa da CPI da Pedofilia. Senadores e funcionários tentam disfarçar o mal-estar com as despesas protagonizadas pelo presidente da comissão, Magno Malta (PR-ES), e dois servidores. O problema não é o mérito da investigação, mas os critérios adotados para as viagens, inclusive ao exterior, e a escolha dos funcionários que acompanham o senador.

Em conversas reservadas, os parlamentares reclamam da falta de relatórios sobre as viagens e da presença de assessores nelas, contrariando uma praxe na Casa de não levá-los ao exterior. Não se sabe o que é feito. Incomodado com o cenário, o relator da CPI, Demostenes Torres (DEM-GO), já admitiu a colegas o desejo de abandonar os trabalhos. O senador gastou R$ 2,9 mil com passagens pela CPI, 11 vezes menos do que Malta, que já consumiu R$ 34 mil, além de R$ 33 mil em diárias para visitar Argentina, Suíça, Índia, EUA e capitais brasileiras.

Levantamento feito pelo site Contas Abertas a pedido do Correio mostra que os assessores que acompanham Magno Malta, José Augusto Santana e Gláucio Pinho, tiveram despesas semelhantes às do parlamentar. Augusto, lotado na secretaria de CPIs, recebeu R$ 37 mil em diárias, enquanto seu colega, que trabalha no gabinete de Malta, R$ 31 mil. A última viagem deles em nome da CPI foi de 16 dias para os EUA entre março e o começo de abril deste ano. Cada um, inclusive o senador, recebeu R$ 15 mil para as diárias, fora passagem aérea, num período em que o presidente José Sarney (PMDB-AP) fala em contenção de gasto.

O caso já foi parar na Primeira-Secretaria. Um ofício foi enviado pela Secretaria das Comissões informando as despesas, acrescentando ainda que os dois servidores viajaram aos EUA com celulares pagos pelo Senado. Em 2006, por exemplo, três integrantes da famosa CPI dos Correios foram ao mesmo país em busca de informações sobre o esquema do mensalão e nenhum servidor acompanhou a comitiva.

O trio da CPI da Pedofilia foi responsável por 80% das despesas até agora. Juntos, eles gastaram R$ 96 mil com passagens aéreas e R$ 102 mil com diárias. Magno Malta explicou que a presença dos assessores foi necessária para ajudá-lo na participação no Fórum para Líderes dos Governo, em Washington, entre 24 e 26 de março, e visitas às sedes da Google e da Interpol nos dias seguintes. ¿Eles foram essenciais para a busca da legislação de como foi criado o banco da pedofilia nos EUA. Meus assessores entendem a legislação. Foi um trabalho produtivo¿, disse. A reportagem procurou os servidores. José Augusto Panisset preferiu não dar explicações. ¿Não tenho que dar satisfação a jornalista¿, afirmou. Já Gláucio Pinho não foi localizado.