Título: Acordo entre militares matou brasileiros na AL
Autor: Araújo, Vera Gonçalves de
Fonte: O Globo, 28/12/2007, O Mundo, p. 29

Foram pelo menos 23 os perseguidos presos, torturados e mortos só na Argentina e no Chile.

SÃO PAULO. Dos 386 brasileiros mortos ou desaparecidos durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985), pelo menos 23 foram assassinados na Argentina e no Chile, numa cooperação das forças militares que governavam países da América do Sul e organizaram a Operação Condor para eliminar opositores dos regimes militares implantados nesses países. Só na Argentina, 11 brasileiros foram presos, torturados e mortos pelo regime argentino nos anos 70.

O caso mais emblemático foi o do carioca Francisco Tenório Cerqueira Junior, pianista dos compositores Vinicius de Moraes e Toquinho. Tido como comunista no Brasil, Tenório desapareceu em Buenos Aires na noite de 18 de março de 1973. Após participar de um show de Vinicius na cidade, Tenório foi para o Hotel Normandia, onde a comitiva estava hospedada. Com dores de cabeça, saiu para comprar remédio e nunca voltou. Foi preso, torturado e morto por militares argentinos. A família de Tenório os processou e obteve indenização pela violência.

- Embora tenha sido criada por Pinochet em 1975, a Operação Condor já funcionava no Brasil desde 1973, em forte intercâmbio com militares argentinos, chilenos, uruguaios, paraguaios e bolivianos - disse o advogado Jair Krischke, do Movimento Justiça e Direitos Humanos, de Porto Alegre.

Krischke fez a lista com o nome dos 23 brasileiros mortos na Argentina e no Chile, e acha que o número pode ser bem maior.

- O Brasil ainda não fez uma investigação séria sobre a Operação Condor, ao contrário de Argentina e Uruguai. Se tivesse feito, não passaria pelo vexame de ver a Justiça da Itália determinar a prisão de militares brasileiros envolvidos com a repressão no continente.