Título: Economia para pagar juros é a maior da História: R$113 bi até novembro
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 29/12/2007, Economia, p. 22

BC garante cumprimento da meta e prevê dívida pública em 43,5% do PIB.

BRASÍLIA. O cumprimento da meta de superávit primário do país este ano, de R$95,9 bilhões, está garantido, segundo o Banco Central (BC). Isso ocorrerá mesmo com a antecipação do pagamento de parte dos aposentados e pensionistas do INSS em dezembro, o que deve consumir mais R$3 bilhões em gastos públicos. De acordo com o BC, há uma folga de cerca de R$17 bilhões, já que a economia para pagar juros acumula R$113,387 bilhões no ano, o melhor resultado da História para períodos entre janeiro e novembro.

Além disso, com a ajuda do crescimento econômico mais robusto e da inflação, a relação entre dívida pública e Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) deve encerrar o ano a 43,5%, o menor patamar desde 1998, o que é importante para a avaliação de risco do Brasil, que busca o selo de grau de investimento das agências internacionais. Até então, o BC previa um patamar de 44% para 2007.

- São muitos recursos (de superávit primário) e, por isso, o cumprimento da meta está assegurado - afirmou o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

Em novembro, o superávit primário do setor público ficou em R$6,817 bilhões, pouco abaixo da expectativa de mercado, ao redor de R$8 bilhões. O resultado se deveu sobretudo ao pior desempenho das estatais, que apresentaram saldo de R$26 milhões, valor ínfimo perto dos R$2,287 bilhões de outubro. De acordo com Lopes, isso ocorreu por causa de decisões de investimentos e gestão das empresas, algo não previsível.

O superávit primário corresponde a 4,22% do PIB num fluxo de 12 meses. A meta do governo é de 3,8%. A expectativa é que haja déficit primário em dezembro, ainda mais com a antecipação de benefícios previdenciários. Em 2006, a conta do último mês do ano ficou negativa em R$6,453 bilhões, sendo R$2,055 bilhões com o INSS.

No mês passado, os gastos com juros somaram R$12,056 bilhões, o que resultou em um déficit nominal (receitas menos despesas, incluindo as financeiras) de R$5,239 bilhões. O número equivale a 2,10% do PIB em 12 meses e, com a expectativa de maiores gastos este mês, deve encerrar o ano a 2,60%, segundo o BC.

Inflação colaborou para reduzir relação dívida/PIB

A dívida pública continua em declínio. Em novembro, ficou em R$1,128 trilhão, o que corresponde a 42,6% do PIB; até outubro, o percentual era de 43,2%. Com o crescimento mais sólido da economia, em torno de 5,2% este ano, segundo cálculos do BC, a relação dívida/PIB deve ficar em 43,5%. Este será o melhor resultado desde 1998, quando ficou em 38,9%. De lá até 2003, a relação subiu para 52,4%, mantendo movimento de queda desde então. Em 2006, por exemplo, fechou em 44,7%.

A inflação pelo IGP-DI, que também corrige o valor nominal do PIB e deve ficar na casa dos 7% no ano, também colaborou para reduzir a relação entre dívida pública e PIB.