Título: Venezuela inicia plano de resgate de reféns
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Fonte: O Globo, 29/12/2007, O Mundo, p. 31

Dois helicópteros chegam a cidade colombiana. Chávez não descarta missão de busca terrestre se necessário

CARACAS. A Venezuela iniciou ontem a operação para receber três reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) a serem entregues num ponto da selva colombiana. Da cidade venezuelana de Santo Domingo, no estado de Táchira, partiram ontem dois helicópteros, que pousaram no fim da tarde em Villavicencio, na Colômbia. Mais cedo, Chávez chegara a dizer que o resgate se daria nas horas seguintes, mas o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), que faz parte da operação, advertiu que a libertação não poderia ocorrer ontem.

- A segunda fase da missão não poderá ser realizada nesta sexta (ontem), pois o CICV não realiza operações à noite, por questões de segurança. Então a libertação dos reféns provavelmente não será hoje (ontem) - informou Barbara Hintermann, chefe da delegação do CICV na Colômbia. - A data ainda não é conhecida, tampouco a hora.

A primeira fase começou ontem, com a reunião dos observadores internacionais em Caracas, o traslado a Villavicencio e a partida dos helicópteros. A representantes de Brasil, Argentina, Cuba, Bolívia, Equador e França, somou-se ontem um da Suíça, país que tem acompanhado a questão dos reféns colombianos e que pediu para participar da missão. Com os delegados internacionais - entre eles o brasileiro Marco Aurélio Garcia e o ex-presidente argentino Néstor Kirchner - seguirá a senadora colombiana Piedad Córdoba, que mediava as negociações com a guerrilha ao lado de Chávez.

Participam da operação três aviões Falcon e dois helicópteros MI-17 - um deles com equipamentos médicos. Em cada helicóptero deverá seguir um membro do CICV. Somente lá receberão as coordenadas das Farc sobre o ponto de encontro na selva.

Chávez ainda não tem coordenadas precisas

Antes de embarcar para Santo Domingo para inspecionar as aeronaves, Chávez declarou que a libertação aconteceria nas horas seguintes. Mas, já na cidade, ele disse ainda não ter as coordenadas exatas para o resgate e não descartou uma operação terrestre de busca. Segundo ele, faz mau tempo na região e a comunicação não é boa.

- Estes dois helicópteros vão partir. É muito provável que os comissários (internacionais) saiam amanhã. Eles podem ir hoje ou amanhã, mas estimamos que não é necessário que partam para Villavicencio até que tenhamos coordenadas específicas para onde seguirão os helicópteros - disse Chávez, de uniforme verde oliva e boina vermelha. - Se houver algum problema para localizar o ponto de encontro, por razão militar ou atmosférica, eu estaria disposto, claro que necessitaria da permissão do presidente (Alvaro) Uribe, a realizar operações terrestres de busca.

A zona onde os reféns devem ser entregues compreende 310 mil quilômetros quadrados em cinco departamentos, com poucas estradas e várias pistas de pouso improvisadas, geralmente usadas por traficantes de drogas. Chávez afirmou ainda desconhecer prazos - contrariamente ao que anunciou Bogotá - que estabeleceriam 72 horas para a libertação dos reféns.

A expectativa era grande entre familiares dos reféns, que chegaram na quarta-feira à noite a Caracas.

- Quero abraçá-los. À medida que o momento se aproxima, parece que estou sonhando - disse Clara González Rojas, mãe de Clara e avó de Emmanuel.

Consuelo, de 57 anos, e Clara, de 43, foram seqüestradas há cerca de seis anos, e sua libertação gera esperanças de futuras negociações para a entrega de outros reféns em poder das Farc. A libertação oferece também a Chávez a oportunidade de retomar o papel de mediador, suspenso por Uribe em novembro.