Título: Figueiredo era uma pessoa avessa à tortura
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 29/12/2007, O Mundo, p. 32

Dirigente do Clube Militar defende ex-presidente da República acusado pela Justiça italiana.

BRASÍLIA. O presidente do Clube Militar, general do Exército Gilberto Figueiredo, saiu ontem em defesa do ex-presidente João Figueiredo, um dos 13 brasileiros processados pela Justiça italiana por suposto envolvimento no seqüestro e na morte de dois militantes de esquerda ítalo-argentinos, em 1980, durante a Operação Condor. O general, que afirma ter sido amigo e "primo distante" do ex-presidente, disse que Figueiredo não admitia a prática da tortura.

- Botaram o presidente Figueiredo no rol dos denunciados. Eu o conheci bem e não posso admitir que alguém pense que ele tenha torturado, determinado ou admitido qualquer tipo de tortura. Era uma pessoa totalmente avessa a isso - disse o general, apesar de evitar criticas à investigação italiana, por desconhecê-la.

Ao defender Figueiredo, que foi o último presidente da ditadura militar e morreu em 1999, o presidente do Clube Militar alfinetou integrantes da esquerda brasileira que ocupam cargo no governo, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva:

- Estamos falando de casos supostamente ocorridos em Uruguaiana (Rio Grande do Sul). No atual governo, aconteceram fatos ao lado do presidente da República e ele disse que não sabia de nada - afirmou, referindo-se ao mensalão.

Em Uruguaiana, foi visto pela última vez o militante Lorenzo Ismael Viñas, de 25 anos. Ele e Horacio Domingo Campiglia - que desapareceu no Rio aos 31 anos - integravam o grupo guerrilheiro argentino Montoneros. Segundo a Justiça italiana, eles foram vítimas da Operação Condor, que uniu ditaduras do Cone Sul em ações de repressão a movimentos de esquerda. Só sete dos 13 acusados estão vivos.

Como a Constituição impede que brasileiros sejam extraditados para responder a processos no exterior, integrantes do governo, como o ministro da Justiça, Tarso Genro, defenderam que eles sejam alvo de investigação no Brasil, a partir dos dados da Justiça italiana - opinião criticada pelo presidente do Clube Militar.

- O ministro da Justiça e qualquer outro deveriam ter cautela ao se pronunciar sobre fato que não está bem esclarecido e não chegou oficialmente ao conhecimento do Brasil. É um pouco de tolice das pessoas. Tem muito gente querendo se promover em cima deste fato.

O general também criticou o ministro especial da Secretaria dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, que defendeu a anulação da Lei de Anistia, de 1979.

- Se extinguir a Lei de Anistia, o que será feito com pessoas do primeiro escalão do governo que assaltaram banco, seqüestraram? - perguntou, sem dizer nomes. - A anistia é para promover o esquecimento do passado, um instrumento para que haja harmonia entre os cidadãos brasileiros.