Título: Gilmar Mendes nega crise no STF
Autor: D'Elia, Mirella
Fonte: Correio Braziliense, 24/04/2009, Política, p. 5

Presidente do Supremo afirma que imagem da Corte é a melhor possível e que a discussão com o ministro Joaquim Barbosa está superada. Lula compara desentendimento a um jogo de futebol

Mendes cercado por jornalistas no Congresso: ¿Não há crise. O tribunal tem trabalhado muito bem, temos resultados expressivos¿ Um dia após o bate-boca com o ministro Joaquim Barbosa, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, negou que a imagem da mais alta Corte de Justiça do país tenha sido arranhada com o embate ou que haja uma crise institucional. ¿Não há crise, não há arranhão. O tribunal tem trabalhado muito bem, temos tido resultados expressivos. A imagem do Judiciário é a melhor possível¿, disse ontem, nas primeiras declarações públicas após a troca de ofensas. Cercado por dezenas de jornalistas, Mendes evitou tocar nos pontos mais polêmicos da áspera discussão.

Depois de participar de uma reunião com o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), para tratar de projetos relativos ao II Pacto Republicano de Estado, o magistrado afirmou que o episódio está superado. ¿Isso está superado, o tribunal já se manifestou¿, declarou, em referência à nota oficial divulgada anteontem pelo Supremo. Na nota, oito dos 11 ministros do STF lamentaram a discussão e manifestaram apoio ao presidente, após uma longa reunião a portas fechadas.

A troca de farpas foi minimizada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele lamentou apenas que a discussão tenha se tornado pública. ¿Eu creio que, quando temos determinadas funções, é importante que a gente diga tudo o que quiser nos autos do processo e que não se fique dizendo pela imprensa¿, disse Lula, ao lado da presidente argentina, Cristina Kirchner, em Buenos Aires.

Lula comparou o desentendimento ao futebol. ¿Se fosse assim, não existiria mais futebol porque tem sempre briga. A única coisa que acho é que se esse tipo de briga, assistido por toda a sociedade brasileira, ajuda a sociedade, a democracia, muito bem¿, completou.

Fogueira No Supremo, o clima era de ressaca para alguns após o bate-boca sem precedentes. ¿Jamais presenciei uma discussão com ofensas tão grandes. Estou de ressaca, mas que isso sirva de lição para adotarmos o padrão desejável nas discussões¿, disse Marco Aurélio Mello. O ministro também já brigou com Barbosa e não fala com o colega desde um desentendimento no fim do ano passado, exceto durante as sessões. Mas defendeu, inicialmente, que o tribunal não se manifestasse sobre o assunto e foi contra a proposta defendida por alguns ministros de soltar uma nota repreendendo Barbosa. ¿Isso só contribuiria para colocar mais lenha na fogueira. Depois houve um meio-termo¿, afirmou. Ele avaliou, no entanto, que a tendência é que o ministro fique mais isolado após o episódio.

Barbosa trabalhou normalmente em seu gabinete ontem. À tarde, almoçou com Carlos Ayres Britto e Ricardo Lewandowski. Os três foram a um dos restaurantes mais badalados de Brasília, na Asa Sul. A iniciativa do encontro partiu de Ayres Britto, que considerou a discussão entre Barbosa e Mendes ¿deprimente¿. ¿Conversamos o óbvio, que todos nós nos sentimos constrangidos. Nosso objetivo é voltar à normalidade institucional e pessoal¿, declarou Ayres Britto em tom conciliador. Segundo ele, Barbosa está convicto que é preciso superar o ocorrido. ¿O empenho dele é de quem protagonizou um episódio infeliz e vai superá-lo, quiçá possamos todos fazer o que recomendava o escrito Fernando Sabino, `fazer da queda um passo de dança¿.¿