Título: Coordenadores admitem falhas em cursos
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 30/12/2007, O País, p. 4

EDUCAÇÃO: Alunos são apontados como culpados pelo desempenho fraco nas avaliações anuais do ministério.

Universidades demitem professores, prometem mudanças e defendem o direito de continuar funcionando.

BRASÍLIA. Coordenadores de cursos sempre reprovados admitem falhas, mas prometem mudar o quadro. Apesar do fraco desempenho em todas as edições do Provão e do Enade, eles defendem o direito de continuar funcionando e lembram que passaram pela avaliação de especialistas do Ministério da Educação encarregados de recomendar ou não o licenciamento das faculdades.

Os cursos de direito do Centro Universitário Augusto Motta (Unisuam) e do Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos, no Rio, trocaram de coordenador e demitiram professores este ano.

O novo coordenador na Unisuam, Antonio Carlos Bezerra de Araújo, diz que acaba de assumir o cargo com a tarefa de melhorar a qualidade do ensino. Ele lembra que o curso já havia sido reformulado em 2004, com a demissão de mais da metade dos professores. Por isso mesmo, a nota 2 no Enade, em 2006, caiu como um balde de água fria. Agora, a instituição decidiu demitir cerca de 20% dos 50 docentes e reforçar o núcleo de prática jurídica.

Dirigente põe culpa nos alunos de baixa renda

Araújo não hesita em culpar os estudantes pelo fraco desempenho nas avaliações oficiais. Segundo ele, a Unisuam atende a alunos de áreas pobres, conflagradas pelo tráfico de drogas e que cursaram o ensino fundamental e médio em escolas públicas de baixa qualidade.

- O problema é a nossa massa cinzenta que está ali sentada - diz Araújo.

A Unisuam tem cursos na ponta de cima do Enade. Os estudantes de administração, por exemplo, tiraram a nota máxima 5, enquanto os de serviço social ficaram com 4. Segundo o coordenador, o problema é que o ensino de direito no país ainda é muito "dogmático":

- Muitos mestres não se desgarraram do ensino como em Lisboa, do tipo conferência, que não contextualiza e acaba não envolvendo o aluno.

No Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos, o novo coordenador, Carlos Alberto Lima de Almeida, assumiu o cargo em julho e conta que diagnosticou diversas falhas:

- Tinha problemas na biblioteca e discrepâncias no corpo docente. Havia professor com especialização em direito público dando aula de direito penal e outros sem envolvimento com a instituição, lecionando apenas duas horas-aula semanais.

Segundo ele, o MEC já aceitou o termo de compromisso proposto pela instituição para melhorar o curso de direito. O documento deverá ser assinado em janeiro:

- É um momento difícil. Temos que ter humildade para reconhecer falhas e adotar mudanças de rumo.

Em Nova Iguaçu, o Centro Universitário Geraldo di Biase decidiu dar atenção extra aos alunos que ingressam no curso de engenharia civil. A idéia é oferecer aulas de reciclagem de disciplinas básicas. Em nota divulgada pela assessoria de imprensa, o pró-reitor acadêmico Osvaldir Geraldo Denadai lembra que o curso recebeu conceito bom na última inspeção in loco, em 2004. Segundo ele, as provas de engenharia são mais difíceis do que nas demais áreas e os alunos tampouco demonstram interesse em respondê-las.

Na mesma linha, a pró-reitora acadêmica do Centro Universitário Bennett, Deise Marques, diz que muitos estudantes não têm consciência da importância do exame e entregam a prova em branco. Ela afirma, contudo, que um plano já foi traçado para melhorar o ensino. Ela não vê motivos para desativar a faculdade:

- É o nosso curso mais tradicional.

Os demais cursos do Rio foram procurados pelo GLOBO, mas não deram retorno aos pedidos de entrevistas.