Título: O freio americano
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 01/01/2008, Economia, p. 17

AMEAÇA EXTERNA

Economia dos EUA desacelera em 2008, mas expansão mundial ficará acima de 4,5%.

Com um Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) em torno de US$15 trilhões, qualquer suspiro da economia americana é capaz de abalar o mundo, inclusive o Brasil. Verdade. Mas em menor escala atualmente. As razões são as mais diversas, apontam especialistas tanto do governo quanto do mercado, e vão desde a enorme capacidade que os Estados Unidos têm de se recuperar de uma crise até a maior influência dos países emergentes na economia global.

A expectativa generalizada é que a economia americana, após a crise no mercado imobiliário - caracterizada por uma explosão de inadimplência -, vai crescer menos em 2008, e até passar por um período recessivo. A crise levou a uma menor oferta de crédito, o que poderá abalar o consumo e desacelerar o ritmo de crescimento. As projeções para o PIB dos EUA em 2007 recuaram de 2,5% a 3% para algo entre 1% e 2%. Para 2008, de mais de 2,5% para entre 1,5% e 2,5%.

- Ainda não sabemos o tamanho da crise dos subprime (hipotecas) nos EUA. Mas também não temos elementos para falar em recessão lá - diz o economista-chefe do WestLB no Brasil, Roberto Padovani.

Ainda que a economia americana mergulhe em uma recessão, esse processo de desaceleração não deve se estender até o ano seguinte ou impor um freio à expansão econômica mundial, na avaliação de Padovani. A opinião do economista é corroborada pelas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), que estima um crescimento de 4,8% da economia global em 2008, acima da média de 4,4% dos anos 70, considerados "os anos de ouro".

Equipe econômica vê a crise como grave

Dentro da equipe econômica do governo brasileiro, a avaliação também é mais otimista, apesar do reconhecimento da gravidade da crise americana. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva anda comentando nas conversas com parlamentares, ministros e jornalistas que este é o único fator que pode estragar a festa do crescimento em 2008.

No entanto, avalia-se no Executivo que a maior economia do mundo tem imenso poder de recuperação. Prova disso foi o 11 de Setembro. Rapidamente, o país se recompôs e voltou a exibir taxas de expansão entre 2,5% e 3% - variação extraordinária para economias do porte da americana.

Também contribuem para o otimismo do cenário econômico o vigor da economia européia, puxada sobretudo pela Alemanha, e a expansão das economias asiáticas, que hoje respondem por cerca de metade do crescimento global.

Para a economista da consultoria Tendências Alessandra Ribeiro, os países emergentes - como Brasil, China, Índia e Rússia - vão compensar parte da perda de fôlego da economia americana, uma vez que tendem a apresentar consumo interno maior e, assim, absorver mais exportações dos EUA:

- As exportações dos EUA vão desempenhar papel importante na recuperação da economia, ajudando a vender mais produtos. Ainda mais que o dólar está desvalorizado.

No terceiro trimestre, as exportações americanas cresceram 19,1%, ajudando na expansão de 4,9% do PIB no período. Na avaliação da economista da Tendências, trata-se de um bom sinal, junto com os fortes investimentos não-residenciais, que também estão mostrando força com crescimento acima de 5%. Para ela, os EUA devem crescer 2,5% em 2009, desde que "a crise dos subprime não traga surpresas".