Título: BC: mercado eleva previsão de inflação para 4,30% em 2008
Autor: Beck, Martha; Barbosa, Flávia
Fonte: O Globo, 01/01/2008, Economia, p. 18

Em novo ano de erros, estimativas do PIB sobem de 3,5% para 5,19%.

BRASÍLIA. Os analistas mantiveram o pessimismo em relação à inflação de 2008 no último Focus do ano - pesquisa semanal do Banco Central (BC) com as principais instituições financeiras do país. Segundo o documento, a variação dos preços pelo IPCA - que orienta o sistema de metas de inflação - deve ficar em 4,30% este ano. No levantamento anterior, era de 4,25%. A perspectiva de elevação dura três semanas devido ao aumento de produção e demanda no mercado interno. Para 2007, a estimativa média é de elevação de 4,36% no IPCA, com leve alta em relação aos 4,35% da pesquisa anterior.

As instituições continuam revendo positivamente expectativas para 2007. Pelo Focus, o Produto Interno Bruto (PIB) deve ter alta de 5,19% em 2007. Na semana anterior esse percentual era de 5,12%. O resultado tem influência da produção industrial, que deve variar 5,82%, segundo a pesquisa.

Para este ano, devido à escalada da inflação e a seu impacto sobre a política monetária, o mercado prevê desaceleração, embora o crescimento esperado seja bastante elevado. Os especialistas acreditam, em linha com o BC, que a economia avançará 4,5% (contra 4,30% há quatro semanas). O mesmo percentual é projetado para a atividade da indústria.

Mas previsões econômicas, em geral, estão fadadas a erro. Se hoje o mercado acredita em forte expansão em 2007, no Focus de 29 de dezembro de 2006 a tendência era de descrédito tanto no aquecimento da economia quanto à atratividade do Brasil para o capital produtivo internacional. Os analistas projetavam crescimento do PIB de 3,5% e previam ingresso de até US$16,1 bilhões em investimentos estrangeiros diretos.

A depreciação do real frente ao dólar foi outro fator que não se confirmou. A taxa de câmbio estimada um ano atrás era de R$2,25 no fim de dezembro de 2007, contra R$1,77 no último levantamento do ano. Os preços de bens comercializáveis teriam uma ajudinha a menos ao longo do ano, o que justificava a previsão de que o BC interromperia muito antes de outubro - mês em que de fato ocorreu - o ciclo de corte de juros iniciado em setembro de 2005. A Selic, assim, teria chegado ao dia 31 em 11,75% ao ano - e não aos 11,25% registrados.

Em 2007, balança comercial pode ter saldo de US$40 bi

Não é surpresa que o mercado chegou próximo às previsões do IPCA - projetava 4%. Mas não conseguiu antecipar a forte elevação dos preços de alimentos e commodities. Não passaram nem perto dos IGPs de 2007. Os analistas não erraram sozinhos. Governo e BC passaram o ano revisando seus números.

Uma das restrições a um crescimento mais robusto do PIB em 2008 é que os juros básicos (Selic) devem ficar congelados num prazo maior do que o estimado nos meses anteriores. A taxa de referência, que encerrou 2007 em 11,25%, chegará a dezembro de 2008, segundo estimativa média, em 10,75%.

Já o câmbio apreciado e a lucratividade das empresas estão por trás da deterioração das expectativas do mercado financeiro para o comportamento das contas correntes (transações do Brasil com o exterior) em 2008. Segundo a média das projeções do Focus, deverá ocorrer déficit de US$3,5 bilhões nos próximos 12 meses. Há um mês, ainda se esperava-superávit de US$2 bilhões.

Para 2007, estima-se no mercado que a conta tenha fechado com saldo positivo de US$5,3 bilhões. Há apenas um mês a previsão era um superávit de US$8,2 bilhões e, uma semana atrás, de US$6,4 bilhões. A balança comercial deve fechar 2007 com o saldo acumulado em US$40 bilhões. Em 2008, o superávit cairá novamente, para US$31,94 bilhões.