Título: Farc suspendem entrega de reféns
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Fonte: O Globo, 01/01/2008, O Mundo, p. 20

Guerrilha alega motivos de segurança e Chávez já fala em operação "clandestina" de resgate.

VILLAVICENCIO, Colômbia

Após quatro dias de tensão, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) suspenderam ontem a entrega de três reféns, pondo em risco a continuidade da operação e reacendendo a rivalidade entre os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Colômbia, Alvaro Uribe. Numa declaração que aumentou ainda mais a preocupação em torno da delicada operação, Chávez chegou a afirmar que a partir de agora poderia pôr em prática uma " modalidade clandestina" de resgate, mas sem dar detalhes sobre o que isso significa.

Em carta enviada a Chávez, as Farc alegaram que operações militares colombianas colocam em risco a operação. Logo após a leitura da mensagem, o presidente venezuelano atacou Uribe afirmando "não confiar no que diz o governo colombiano". O governo colombiano respondeu imediatamente dizendo que não há qualquer operação militar em curso, que as Farc "mentem e enganam o mundo" e que aceita desmilitarizar uma zona para a finalização do resgate.

- Recebi uma carta das Farc citando as operações militares colombianas como o fator que está dificultando a entrega dos reféns. A carta diz que é impossível agora e insistir seria pôr em perigo a vida dos reféns e também dos guerrilheiros designados para a missão. Mas a missão está suspensa e não cancelada. Não podemos acreditar no que o governo colombiano diz e, por isso, pensamos em uma outra forma de libertação, que pode ser clandestina, mas preferirmos que não seja assim - disse o presidente venezuelano.

As Farc prometeram entregar Clara Rojas, ex-assessora de campanha da ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt, seu filho Emmanuel, nascido em cativeiro, e a ex-parlamentar Consuelo González de Perdomo.

Uribe se irrita com acusações

Visivelmente irritado com as declarações de Chávez, o presidente Alvaro Uribe afirmou que nenhuma operação militar ou combate ocorreu na região prevista para a entrega dos reféns.

- As Farc estão mostrando ao mundo que mentem. Nós cumprimos com nossa palavra e demos todas as garantias para a libertação. Mas, mais uma vez, eles não cumpriram com o que prometeram. Fazem isso há mais de 40 anos - disse o presidente.

Na tentativa de acalmar os ânimos da comissão internacional que aguarda há quatro dias o sinal verde para o resgate, Uribe foi ontem a Villavicencio dar explicações aos diplomatas. Segundo fontes governamentais, a comissão teria pressionado o presidente a aceitar uma zona desmilitarizada para a entrega dos reféns. Estima-se que cerca de 20 mil soldados do Exército estejam atuando na região onde os reféns seriam libertados.

A comissão internacional que está em Villavicencio é formada, entre outros representantes, pelo assessor especial da Presidência do Brasil, Marco Aurélio Garcia, pelo o ex-presidente argentino Néstor Kirchner e por representantes dos governos de Bolívia, Cuba, Equador, França e Suíça, além do o cineasta americano Oliver Stone, que planeja filmar a libertação dos reféns. O grupo, coordenado pelo ex-ministro venezuelano Ramón Rodríguez Chacín esperava apenas as coordenadas da guerrilha para iniciar o resgate. Os delegados começaram ontem mesmo a retornar a seus países.

Segundo fontes colombianas, desde cedo algumas autoridades de comissão demonstraram irritação com a demora, entre eles o ex-presidente argentino Néstor Kirchner, que teria ameaçado retornar a Buenos Aires para passar o réveillon.

Pouco antes de saber da suspensão da operação, o presidente colombiano também conversou por telefone com o presidente dos EUA, George W. Bush, acusado por Chávez de conspirar com operações para evitar o resgate dos reféns.