Título: Casamento difícil
Autor: Menezes, Maiá ; Lamego, Cláudia
Fonte: O Globo, 02/01/2008, O País, p. 3

ELEIÇÕES 2008

No Rio, partidos buscam alianças, mas não abrem mão de lançar candidatos próprios

Mesmo selado, o acordo entre as duas maiores forças políticas do estado rumo a 2008 ainda é uma incógnita. O DEM, do prefeito Cesar Maia, está certo de que terá o apoio do PMDB, do governador Sérgio Cabral. Entre os peemedebistas, no entanto, a certeza não existe: há uma queda de braço entre o grupo do ex-governador Anthony Garotinho e do presidente da Assembléia, Jorge Picciani, favoráveis à aliança, e o do governador, que deseja lançar o nome do secretário estadual de Esportes, Eduardo Paes, para a sucessão de Cesar na prefeitura do Rio. Enquanto isso, desponta a surpresa: o deputado estadual e apresentador Wagner Montes (PDT), empatado com o senador Marcelo Crivella (PRB), nas últimas pesquisas .

Com perfil popular e conquistando eleitores nas áreas mais carentes, nas zonas Norte e Oeste, aparecem Crivella e Montes. Colegas de emissora, na TV Record, os dois dividem as intenções de voto entre os cariocas com menor escolaridade e renda mensal de cinco salários mínimos. O eleitorado mais escolarizado e com maiores salários é dividido entre deputada federal Solange Amaral (DEM) e a ex-deputada Denise Frossard (PPS). No campo de esquerda, há o PT (com três pré-candidatos), o PCdoB (Jandira Feghali), o PSB (Carlos Lessa), o PV (Alfredo Sirkis) e o PSOL (Chico Alencar). Todos defendem alianças, mas nenhum admite publicamente ceder a cabeça de chapa, o que inviabilizaria as parcerias.

Crivella concorda que o quadro, por enquanto, está polarizado. Por isso, diz, quer tentar uma aliança com o campo de esquerda, nem que seja visando à disputa no segundo turno. E insinua que Montes pode desistir.

- O Wagner tem dito que é candidato a governador. Concordo, porque o eleitorado dele é muito nos policiais e esse setor é estadual. Sem ele na disputa, e se eu conseguir uma aliança com outros partidos, como o PCdoB, PR, PTB, PTdoB, PR, terei mais chance. Das outras vezes (Crivella foi candidato a prefeito em 2004 e a governador em 2006), disputei sozinho.

Montes faz planos de ser "xerife"

Montes concorda que é mais ligado à área de segurança, mas afirma que, na prefeitura, será um xerife e diz já ter projetos para a guarda municipal. Nenhuma palavra sobre desistência da candidatura. Pelo contrário, cobra do PDT a sua escolha:

- Há 16 anos, o PDT não aparece nem no pódio nas pesquisas. Pela primeira vez em 16 anos, o PDT estará aparecendo nas pesquisas no primeiro lugar. Mas, é necessário que o partido se defina pela minha candidatura. O que tem que haver é respeito à vontade do eleitor. Todas as pesquisas, cinco pesquisas, de institutos diferentes, mostram que a dianteira é muito grande - diz Montes.

Sobrinho do bispo Edir Macedo, dono da Record, onde Montes apresenta o programa "Balanço geral", Crivella diz que incentivou a ida do deputado para a emissora, mas que não faz pressão para que ele desista da disputa.

- Converso sempre com o Wagner, mas eu seria incapaz de incentivá-lo a desistir de sua candidatura ou tomar alguma medida que pudesse prejudicá-lo. Agora, acho que temos muito a conversar. Fui um dos maiores incentivadores, aproveitando a popularidade da Record, para que ele se lançasse a deputado. Eu me sentiria muito mal se movesse qualquer pedra na sua carreira artística na Record.

Quase todos os partidos dizem que estão tentando costurar alianças, mas a maioria diz não abrir mão de lançar a cabeça de chapa. É o caso do PCdoB, que deverá lançar a ex-deputada Jandira Feghali. No discurso, ela diz que, se o bloco de esquerda se unir, ganha eleição.

- O candidato tem que representar programaticamente o bloco e ter capacidade de unir forças. Não pode dar apenas sinais de densidade eleitoral - diz Jandira.

O PSB diz não abrir mão da candidatura do economista Carlos Lessa. No PV, o candidato será Alfredo Sirkis. O PSOL terá o deputado federal Chico Alencar. No PT, a disputa pela indicação está entre a ex-governadora Benedita da Silva, o ex-deputado federal Vladimir Palmeira e o deputado estadual Alessandro Molon.

No PSDB, o candidato deverá ser escolhido na segunda quinzena de fevereiro, após uma série de debates entre os pré-candidatos: o deputado federal Otávio Leite, a vereadora Andréa Gouveia Vieira e o deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha. Segundo Luiz Paulo, se o partido não chegar a um consenso, a executiva nacional do PSDB fará a escolha.

O DEM está apostando na candidatura da deputada federal Solange Amaral e na aliança, ainda duvidosa, com o PMDB. Mas na legenda do governador Sérgio Cabral ainda não há consenso sobre a parceria. Cabral tem reafirmado que seu candidato preferido é o secretário de Esporte e Lazer, Eduardo Paes, que se filiou ao PMDB em meio a uma briga do governador com Anthony Garotinho e Jorge Picciani (presidente da Assembléia Legislativa do Rio), que defendem a aliança com o DEM de Cesar Maia, em troca de apoio do partido no interior.

Ainda no PMDB, o DEM vai enfrentar a resistência de pré-candidatos como Marcelo Itagiba, que querem a realização de prévias para a escolha de candidato próprio.