Título: Em SP, conflito tucano para escolher candidato marca início do ano eleitoral
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 02/01/2008, O País, p. 4

ELEIÇÕES 2008: Berzoini defende candidatura de Marta, sem prévias no PT

Alckmin pensa na disputa, mas Serra quer manter aliança com Kassab

SÃO PAULO. Com a eleição de 2010 como pano de fundo, foi dada a largada, ao menos nos bastidores políticos, para a sucessão na prefeitura de São Paulo. Seja por pressão de seus partidos ou para aproveitar a imagem que deixaram na última campanha, a ministra do Turismo, Marta Suplicy (PT), e o ex-governador do estado Geraldo Alckmin (PSDB), começam a admitir o desejo de suceder a Gilberto Kassab (DEM) no comando da maior cidade do país. Kassab não deixa por menos:

- Eu ficaria muito feliz em disputar a reeleição.

Em análises internas, Marta e Alckmin alegam que, para concorrer, precisam ter seus partidos unidos em torno de suas candidaturas. Enquanto o presidente reeleito do PT, Ricardo Berzoini, defende o nome de Marta sem necessidade de prévias no partido, no PSDB o comando tucano vive o dilema de como lidar com a disputa sem minar a aliança com o DEM. Kassab diz que não é hora de falar do assunto, mas adianta:

- É natural a tendência de reeleição, ainda mais para um administrador bem avaliado, mas temos uma aliança sólida do PSDB com o DEM e precisamos discutir esse assunto no seu devido tempo - disse o prefeito.

Primeiras pesquisas eleitorais apontam vitória de Marta

As primeiras pesquisas reforçam a polarização entre PSDB e PT. Segundo o Ibope, num cenário que inclui Marta, Alckmin e Kassab, a petista sai na frente, com 27% das intenções de voto, contra 24% para o tucano e 12% para o prefeito. Já no segundo turno, Alckmin venceria a disputa com Marta: 50% a 38%. Com Kassab, a diferença de Alckmin aumenta: 56% a 22%.

No PSDB, até que conflitos internos sejam diluídos, Alckmin é pré-candidato. Publicamente, ele desconversa, mas a amigos dá sinais claros de que porá a campanha na rua após o carnaval. Suas pretensões políticas esbarram no racha que se avista por causa do forte interesse de uma ala tucana em apoiar a reeleição de Kassab.

Serra teme perder a aliança com o DEM em 2010

O governador José Serra estaria por trás dessa articulação contra a candidatura de Alckmin, reeditando o clima da eleição de 2006, quando os dois disputaram a vaga de candidato do partido à Presidência. Possível candidato à sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva em 2010, Serra teme perder o apoio do DEM, caso o PSDB insista em jogar Kassab para escanteio.

Alckmin quer aproveitar a lembrança que o eleitor tem da disputa de 2006, quando perdeu para Lula no segundo turno. O ex-governador, porém, não pretende partir para o tudo ou nada para ter o apoio do PSDB.

- Só não estou disposto a brigar, como aconteceu na candidatura para presidente em 2006. Mas deve ser natural que o partido não queira, e eu também não quero, perder esse universo de votos que tive em 2006, o que poderia acontecer se eu me candidatasse apenas em 2010 para governador de São Paulo - disse Alckmin a um tucano.

O ex-governador avalia que, se o PSDB optar por outro nome, sairá dividido e, provavelmente, derrotado da campanha municipal. Em análises internas e pesquisas, Marta aparece como a única candidata com forte chances de derrotá-lo. No PT, a pressão dos prefeitos da grande São Paulo e da militância ajuda a empurrar Marta para a disputa, embora ela preferisse esperar a briga pelo governo de São Paulo, em 2010. Para os prefeitos da região, a força de Marta pode alavancar seus candidatos. Mas também entram na bolsa de apostas do PT o senador Aloizio Mercadante e os deputados José Eduardo Martins Cardoso e Arlindo Chinaglia.

- Marta é a candidata mais forte que temos e me parece que a imensa maioria do partido desejaria sua candidatura. Eu mesmo, até como paulistano (embora nascido em Minas), vejo que a população sente saudades de Marta - disse Berzoini.