Título: Com genoma mapeado, bois devem produzir mais
Autor: Couto, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 24/04/2009, Brasil, p. 14

Embrapa participa de consórcio internacional que acaba de fazer o sequenciamento genético da espécie. ¿Mapa¿ pode melhorar rebanho. Alexandre Caetano, da Embrapa: ¿resultados concretos¿ esperados Noventa e dois por cento do sequenciamento genético do boi foram decifrados por um consórcio internacional liderado por pesquisadores do Baylor College of Medicine (BCM), do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e da Universidade de Georgetown. Depois de seis anos de investigação, o estudo, que teve um custo total de US$ 54 milhões, contou com a participação de 300 especialistas de 25 países, entre eles pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP) e da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp). Dois artigos científicos com os resultados serão publicados hoje pela revista Science.

Além da revelação do genoma bovino, um trabalho associado ao sequenciamento também construiu um Mapa Haplotípico Bovino (Hapmap Bovino), espécie de mapa genético com características do animal. ¿O Hapmap já está sendo usado nos Estados Unidos desde janeiro deste ano e, em janeiro de 2010, poderemos ter resultados concretos dessa ferramenta aqui no Brasil¿, afirma Alexandre Caetano, pesquisador da Embrapa que participou dos estudos.

Entre os resultados concretos previstos estão o aumento da produção de carne e leite, bem como a melhoria da qualidade dos derivados bovinos. ¿Além disso, o Hapmap pode ajudar a criar animais mais resistentes a doenças como a mastite, que inflama as glândulas mamárias das vacas¿, exemplifica Caetano. Segundo ele, a ferramenta vai melhorar ainda mais a avaliação do rebanho, ¿tornando-a mais rápida, eficiente e barata¿.

Assim como a descoberta do genoma humano, ressaltam os pesquisadores, o sequenciamento genético do boi não deve resolver todos os problemas que acometem o rebanho bovino. ¿O Hapmap não é a solução para tudo. A grande sacada está em aplicar essa ferramenta de trabalho da maneira correta para responder a algumas perguntas essencias¿, afirma Caetano. Ele explica que isso não tem condições de criar animais resistentes à febre aftosa. ¿Pelo que se sabe até hoje, não existe gado imune à doença, portanto, não se pode fazer uma seleção genética quando não existe variabilidade genética¿, explica.

Custos Caetano observa que todos serão beneficiados com a ferramenta. ¿Todo mundo vai ser favorecido, desde o sistema produtivo até o consumidor.¿ O custo para a implantação, segundo ele, pode ser absorvido pela própria Embrapa e por agências de fomento de todo o país. Na opinião da pesquisadora da FMRP-USP Isabel Santos, os resultados do estudo, além dos impactos em estudos de biologia evolutiva e na melhoria da produção, também devem auxiliar em investigações da fisiologia da lactação, da digestão e do metabolismo do rebanho bovino. Os resultados podem explicar, segundo Santos, a capacidade dos ruminantes de transformar forrageiras de baixa qualidade nutricional em carne e leite de alto valor energético.