Título: Resgate suspenso, o último revés de Chávez em 2007
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 02/01/2008, O Mundo, p. 22

Presidente teve um ano marcado por derrotas e polêmicas.

CARACAS. Ele tinha sonhado que 2007 seria a data fundadora de sua "revolução", mas o ano que passou está longe de ter correspondido às expectativas do presidente venezuelano Hugo Chávez, principalmente depois do fracasso em relação à operação para libertar os reféns colombianos. No apagar das luzes do ano, Chávez ainda tentou uma medida para minimizar o ciclo de impactos negativos que vêm sofrendo, concedendo anistia para envolvidos na tentativa de golpe contra ele em 2002, mas a medida chegou tarde para mudar qualquer coisa.

Santo de casa não faz milagre: essa é a lição sobre a qual poderia meditar este ardoroso dirigente, tido como ovelha negra pelos Estados Unidos na América Latina desde sua eleição em 1999. As urnas infligiram pela primeira vez uma humilhante derrota a este ex-oficial de 53 anos, que sonhava em "nocautear o império americano", aos moldes de seu mentor cubano Fidel Castro.

- Seu projeto de se transformar em um herdeiro da esquerda radical no cenário mundial terminou em um duro fracasso - disse Edmundo González Urrutia, diretor do Centro de Análises Diplomáticas e Estratégicas em Caracas.

O ano passado, sem dúvida, começou com bons ventos soprando para o homem-forte da Venezuela, iniciando em janeiro um novo mandato, após uma reeleição triunfal, seguida de um vasto plano de nacionalização em todas as frentes.

Mas, no crucial referendo de 2 de dezembro, os venezuelanos rejeitaram sua reforma constitucional, que buscava gravar "o socialismo do século XXI" na Constituição e oferecer ao chefe de Estado a possibilidade de ser reeleito indefinidamente.

Golpeado por uma limitação para mandatos que desejava suprimir, aquele que queria "salvar o planeta" e governar "até 2025" agora deverá deixar o poder em menos de seis anos.

Para o cientista político Tulio Hernández, professor da Universidade Central da Venezuela,"o mito de Chávez como o salvador latino-americano começou a desmoronar."

Sem dúvida, seu decisivo papel na mediação para a libertação de três reféns das Farc abriria a este incansável animal político uma oportunidade de ressurgir, de lapidar sua imagem. Mas o fracasso pode trazer ainda mais desgaste de sua imagem.

O ano de 2007 também ficará marcado pelo "Por que não se cala?" dito ao presidente pelo rei espanhol Juan Carlos durante a Cúpula Ibero-americana no Chile, em novembro. A frase teve ressonância mundial e virou slogan de camisetas, toque de celular e se espalhou pela internet.

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