Título: Brasileiro diz que aceitaria resgate clandestino de reféns
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 02/01/2008, O Mundo, p. 22

Segundo Marco Aurélio Garcia, proposta de Chávez seria uma das alternativas. Governo colombiano se opõe com veemência a plano "sem sentido".

BOGOTÁ e BRASÍLIA. Um dia depois de o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, afirmar que poderia optar por uma estratégia clandestina para libertar três reféns em poder das Farc, o assessor especial da Presidência do Brasil, Marco Aurélio Garcia, afirmou que não há negociação clandestina entre Chávez e os guerrilheiros colombianos, mas afirmou que seria "melhor" se isso fosse conseguido dessa forma, sem a presença de observadores internacionais. Ele participou das negociações como observador brasileiro. A afirmação vai na contramão da reação do governo colombiano à proposta. Bogotá classificou a hipótese de "sem sentido" e disse que deve ser impedida.

Apesar de Chávez não ter deixado claro o que seria a alternativa clandestina, analistas venezuelanos afirmam que ela consistiria na entrega dos reféns pelas Farc em território venezuelano, numa ação de alto risco, sem qualquer garantia das autoridades, e que faria tanto guerrilheiros quanto reféns cruzarem ilegalmente a fronteira colombiana.

- Não há uma estratégia clandestina do Chávez. O Chávez tomou uma iniciativa, foi beneficiado por esse contato. Mas evidentemente as negociações que ele faz com as Farcs têm que ser reservadas. Se não forem reservadas, as Farc estariam expostas a um tipo qualquer de ataque - disse Garcia.

Quando questionado diretamente sobre as declarações de Chávez a respeito de uma negociação clandestina para libertar os reféns, sem a presença de observadores internacionais, como foi desta vez, Marco Aurélio afirmou:

- Melhor. Nós não precisaríamos fazer a viagem.

Marco Aurélio afirmou ainda que mais importante é a eficácia na libertação dos reféns.

- Qualquer um pode fazer uma negociação paralela. Isso pode ser feito por qualquer governo. O que se busca é a eficácia. Fomos para uma operação com essas características (com observadores internacionais). Mas de maneira alguma isso esgota a possibilidade de uma outra proposta ter uma acolhida favorável. Eu não fui lá para fazer figuração. Eu fui lá para libertar os reféns. Por isso, eu não me oporia se houvesse um outro mecanismo de libertação - disse.

Para o assessor da Presidência, o fato de uma eventual operação clandestina ser ilegal, já que entregaria os reféns pela fronteira entre a Colômbia e a Venezuela, sem a presença de qualquer autoridade, não é o mais importante. Por essa operação, as Farc atravessariam a fronteira:

- Essa não é a maior ilegalidade que as Farc estariam cometendo. Elas vivem na ilegalidade. Tem ilegalidade maior do que manter os reféns?

O governo colombiano, no entanto, afirmou ontem que a hipótese de uma operação clandestina "não tem sentido e não pode ser admitida". A afirmação foi feita pelo alto comissário colombiano para a Paz, Luis Carlos Restrepo.

- Não podemos admitir esse tipo de procedimento, não faz nenhum sentido. O governo colombiano continua dando todas as garantias legais para a libertação dos reféns em absoluta segurança - disse o alto comissário.

Ao voltar ontem de Villavicencio, na Colômbia, Garcia disse que serão necessárias duas condições básicas para que uma nova operação de resgate tenha sucesso: a criação de um corredor desmilitarizado na região e a interrupção das ações das Farc no período da libertação.

Sobre a polêmica de que o filho da refém Clara Rojas, Emmanuel, estaria num orfanato colombiano, Marco Aurélio argumentou que isso seria rapidamente esclarecido com um exame de DNA. Mas sugeriu que, se for comprovado, as Farc perdem credibilidade.

- Se for (Emmanuel), introduz um novo dado sobre a credibilidade de uma das partes na negociação - disse, e lamentou o desfecho da operação: - Lamentar o fracasso parcial da operação é uma unanimidade.

Em nota oficial, o Itamaraty reiterou sua solidariedade ao presidente Hugo Chávez, à comissão dos delegados internacionais e às famílias das pessoas seqüestradas.

Com agências internacionais