Título: A construção de oportunidades
Autor: Neves, Aécio
Fonte: O Globo, 03/01/2008, Opinião, p. 7

A abertura de perspectiva profissional para a juventude tornou-se um dos grandes desafios do mundo globalizado, em especial na América Latina. A tal ponto que, em setembro último, a Organização Internacional do Trabalho (OIT), das Nações Unidas, alertava que o desemprego, a informalidade e a inatividade ameaçam o futuro de cerca de 106 milhões de jovens latino-americanos.

Os dados da OIT somam-se aos divulgados pelo Instituto Ayrton Senna, publicados pelo GLOBO: 12% dos alunos da rede pública entre a 1ª e a 4ª séries não sabem ler e escrever. São alunos analfabetos. Mais que preocupantes, deveriam ser fatos inaceitáveis para governos e países. Torna-se imperativo para os governantes a adoção de mudanças rápidas, mas profundas, capazes de reestruturar e qualificar o processo de aprendizagem no país.

Minas foi o primeiro estado brasileiro a implantar, em 2004, o ensino fundamental de nove anos, ampliando em um ano a fase da alfabetização, determinante para o futuro dos estudantes. Avançou ao reformar grande parte da rede pública, mas, especialmente, ao estimular o professor com o emblemático paradigma da escolaridade adicional como instrumento de progressão na carreira e melhor remuneração. Na outra ponta, estamos avaliando individualmente a leitura e a escrita de todo aluno da 3ª série, ano final do ciclo de alfabetização, matriculado nas escolas estaduais e municipais. O desempenho de cada aluno significa a avaliação do desempenho de cada professor e escola.

Minas Gerais é, hoje, o único estado que produz dados específicos sobre os níveis de alfabetização dos alunos da rede pública. Em 2007, as provas revelaram que as crianças estão lendo melhor que no ano anterior. A taxa de alunos do 3º ano que atingiu nível "recomendável", de acordo com parâmetros definidos pela Secretaria de Estado de Educação, UFMG e UFJF, subiu de 45% em 2006 para 58,1% em 2007. O percentual de crianças que não sabem ler (nível baixo) caiu de 33,4% para 24,3%. A capacidade de leitura dos alunos das escolas públicas mineiras teve um crescimento médio de 6,5% de 2006 para 2007.

As provas revelaram outro importante dado: na Região Norte e nos vales do Jequitinhonha e Mucuri, onde estão municípios entre os mais pobres do Brasil, a média de crescimento foi superior à média do estado, alcançando 7,6%. Tivemos escolas no Jequitinhonha onde 100% dos alunos escrevem e lêem corretamente. São resultados animadores num país com tantas diferenças e tantos desequilíbrios regionais, mas, sobretudo, porque nos sinalizam que podemos sim oferecer educação de qualidade no ensino público sem esperar que o Brasil enfim seja um outro país.

A oferta de educação de qualidade pelo poder público é inadiável. A afirmativa é desgastada e rotineira, mas é preciso repeti-la. Não podemos pensar em desenvolvimento para o Brasil e perspectivas para nossos jovens sem o pilar da educação.

AÉCIO NEVES é governador de Minas Gerais.