Título: Governo ressuscita crédito
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 24/04/2009, Economia, p. 15

Volume de empréstimos a pessoas e empresas cresce 26% em março, aproximando-se do nível pré-crise. Ampliação foi impulsionada pelo Banco do Brasil, Caixa e BNDES, instituições controladas pela União

Lopes, do BC: crédito de bancos privados precisa se disseminar A despeito do frágil ritmo da economia, as operações de crédito estão recuperando o fôlego e saindo do fundo do poço para o qual foram empurradas pelo estouro da crise mundial. A melhora, porém, está sendo capitaneada pelos bancos públicos, que assumiram a linha de frente dos empréstimos a empresas e aos consumidores, depois de um período de escassez geral. Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, entre setembro de 2008 e março deste ano, as instituições controladas pelo governo (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ampliaram os estoques de crédito em 18,3%. No mesmo período, o saldo das carteiras dos bancos privados nacionais cresceu 1,5% e o dos bancos estrangeiros, 3,5%.

¿As concessões de crédito estão quase voltando aos níveis pré-crise. Mas ainda há uma concentração expressiva em bancos públicos¿, disse Altamir. ¿Para que o crédito volte à normalidade, é preciso que haja maior disseminação entre os bancos privados, o que deve ocorrer com a retomada das operações de instituições de médio e de pequeno portes, que, durante a crise, ficaram sem recursos para emprestar¿, frisou. A seu ver, os bancos menores, que atendem, principalmente, a pequenas e médias empresas, devem se mostrar mais presentes a partir deste mês, pois já captaram R$ 3,2 bilhões por meio de recibos de depósitos bancários (RDBs), títulos com seguro para aplicações de até R$ 20 milhões.

Em março, especificamente, as concessões acumuladas de crédito a empresas e aos consumidores cresceram 26,1%. No acumulado do primeiro trimestre, porém, encolheram 4,1%. Já o saldo total das operações (que incluem os juros) avançou 1% no mês passado e 1,1% no trimestre, computando aumento de 25% em 12 meses ¿ até setembro de 2008, as operações davam saltos superiores a 33%. ¿Houve uma desaceleração no crédito, que vinham crescendo a um ritmo muito veloz. Mas um aumento de 25% em 12 meses ainda é expressivo. Para este ano como um todo, projetamos incremento de 14%¿, assinalou o economista do BC.

Segundo Márcio Percival, vice-presidente de Finanças da Caixa, é natural que os bancos públicos ocupem maior espaço no mercado num momento em que o setor privado encolhe. Ele contou que o saldo da carteira de crédito da Caixa cresceu 11,4% nos três primeiros meses ante 1,1% da média do mercado. ¿Os nossos carros-chefe têm sido os empréstimos a empresas¿, afirmou. A instituição liberou, no período, R$ 10,7 bilhões para o setor produtivo ¿ 57% a mais que no primeiro trimestre de 2008, quando a economia ainda avançava a passos largos. ¿É perfeitamente compreensível que os bancos públicos supram o crédito num momento de falha no mercado. Mas esse processo deve ser temporário, para evitar riscos excessivos às instituições¿, disse Roberto Padovani, estrategista-chefe do Banco WestLB.

Com os bancos públicos à frente do crédito, as taxas de juros e o spread (diferença entre os que as instituições pagam aos investidores e o quanto cobra dos devedores) caíram. No caso das pessoas físicas, a taxa média ficou em 50,1% ao ano, o menor patamar desde junho de 2008. ¿Não há dúvidas de que há espaço para que o custo do dinheiro continue diminuindo, o que será vital para estimular o crédito e manter o consumo em um nível que evite a recessão da economia¿, assinalou o economista-chefe do Banco Schahin, Sílvio Campos Neto.