Título: Bovespa cai 1,68%, e risco-Brasil sobe 7,07%
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 03/01/2008, Economia, p. 22

Ações de bancos perdem mais de 5% após pacote do governo. Nos EUA, índices recuam com alta do petróleo e dados ruins

RIO e NOVA YORK. O primeiro dia do ano no mercado foi de intensa volatilidade, com a expectativa dos investidores com o anúncio das medidas do governo para cobrir a perda da CPMF. Outra espera era pela divulgação da ata da última reunião do comitê de mercado aberto do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Com isso, o primeiro pregão de 2008 encerrou em queda de 1,68%, aos 62.815 pontos no Ibovespa. Nos EUA, com a divulgação de dados econômicos piores que o esperado e o recorde do petróleo, os índices fecharam em terreno negativo, no pior começo de ano em queda percentual em mais de 25 anos em Wall Street. O Dow Jones caiu 1,67%, o S&P 500 recuou 1,44%, e o Nasdaq, 1,61%.

No Brasil, o dólar comercial encerrou o dia em queda de 0,34%, a R$1,771 na venda. Tanto no mercado de câmbio quanto no de ações, os volumes foram considerados fracos: R$4,543 bilhões na Bovespa e cerca de US$1,8 bilhão no câmbio. Os montantes diários costumam passar de R$6 bilhões e US$2,5 bilhões, respectivamente.

O volume fraco deve permanecer, ao menos, até o fim da semana, no Brasil e no exterior, devido às festas de fim de ano, diz Jorge Knauer, gerente de câmbio do Banco Prosper. Com isso, fica difícil traçar uma tendência consistente. O risco-país teve alta de 7,07%, para 227 pontos centesimais, com a corrida de investidores para os títulos do governo americano, considerados mais seguros. O risco mede a diferença entre a taxa paga pelos papéis dos EUA e a exigida pelo mercado para títulos de outros países, como os brasileiros. No caso, 2,27% ao ano.

Apesar de o dia inteiro ter sido de queda para a maior parte das ações da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) - o Ibovespa chegou a cair 1,92% -, no fim do dia as quedas se intensificaram nas ações dos bancos. Os papéis do Itaú chegaram a cair 5,01%, os do Bradesco, 5,38%, os do Banco do Brasil, 3,78%, e os do Unibanco, 5,32% - todas essas quedas com mais força após as 17h, quando o governo anunciou o pacote para compensar a perda de arrecadação com a CPMF. As instituições terão aumento da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), de 9% para 15%. As medidas do governo deixaram o mercado dividido.

- Foi positivo, no fim das contas. O governo mostrou que vai cortar despesas. O receio era que houvesse alguma medida contra o superávit primário. Por outro lado, grande parte dos cortes vai ser em investimentos. Era preferível que fosse em despesas correntes - disse Tomás Goulart, economista da Modal Asset Management.

Para "WSJ", Brasil é centro financeiro da América Latina

Outro fator de volatilidade, a ata do Fed não trouxe novidades, avalia o economista Ivo Chermont:

- A ata reflete que a maior preocupação do Fed é com a atividade econômica do que com a inflação, diretamente.

Talvez por isso, o mercado americano tenha ficado no terreno negativo. Foi divulgada pesquisa do Institute for Supply Management (ISM) que mostrou inesperada contração na atividade manufatureira do país. O índice caiu para 47,7 pontos em dezembro, frente aos 50,5 pontos no mês anterior. Nível inferior a 50 reflete queda na atividade. Os investidores avaliaram, assim, maior risco de recessão.

As perdas em Wall Street se ampliaram após o petróleo ter atingido US$100, e nem a divulgação da ata do Fed, à tarde, sugerindo novo corte nos juros se a deterioração nos mercados de crédito levar a problemas mais sérios no setor imobiliário e no restante da economia, foi capaz de mudar o cenário.

Na Europa, o índice FTSEurofirst 300, que reúne ações das principais empresas, fechou em baixa de 1,3%. Em Londres, houve recuo de 0,62%, em Frankfurt, de 1,47%, e em Paris, de 1,14%.

Ontem, o jornal "Wall Street Journal", dos EUA, disse que o Brasil "é o centro financeiro da América Latina". A reportagem cita os ganhos do Ibovespa que, em 2007, acumulou rentabilidade de 72% em dólar e foi favorecido pela valorização do real frente ao dólar.

(*) Com agências internacionais