Título: Ministros tentam fugir da tesoura
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 04/01/2008, O País, p. 3

PACOTE DE ANO NOVO

Briga contra cortes no Orçamento começa, e Lula pede plano para racionalizar gastos públicos

Oanúncio das medidas para compensar o fim da CPMF levou ministros ao Palácio do Planalto, ontem, para tentar preservar da tesoura da área econômica os projetos das pastas que comandam. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a decidir ontem mesmo, nessas conversas com ministros, os setores que serão afetados e os que serão poupados do corte de R$20 bilhões no Orçamento deste ano.

Em reunião com os ministros da Fazenda, Guido Mantega, do Planejamento, Paulo Bernardo, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ontem à tarde, Lula pediu a Paulo Bernardo que dentro de 20 a 30 dias apresente uma proposta para racionalizar gastos públicos. A idéia de Lula é que o governo possa adotar medidas para fazer mais com menos recursos. Seria uma resposta a setores da sociedade que criticam o governo pelo que consideram excessos de gastos. Lula quer evitar que o dinheiro escorra pelo ralo, como definiu um assessor.

A preocupação dos ministros, porém, é outra. O ministro da Educação, Fernando Haddad, saiu de uma audiência com Lula certo de que terá que reduzir despesas, mas com a promessa de que as ações prioritárias do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) - 75% delas - serão mantidas. Já o ministro das Cidades, Márcio Fortes, foi mais feliz. Além de ouvir que seu orçamento não se reduzirá, uma vez que a maior parte está garantida no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), ele ainda recebeu do presidente um pedido animador: uma agenda de viagens para visitar e anunciar obras.

Segundo o ministro da Educação, dos programas do PDE, "seis ou sete" ações prioritárias serão mantidas: expansão de universidades federais e de escolas técnicas, universidade aberta, inclusão digital nas escolas, programa Caminho da Escola e programa Pró-Infância. Esses projetos respondem por 75% dos investimentos do PDE, estimados em R$8 bilhões em quatro anos.

Reajuste de professor pode ser alvo de corte

Haddad evitou adiantar onde haverá cortes, mas, quando questionado se reajustes salariais de professores, por exemplo, ficariam comprometidos, indicou que isso poderá entrar na cota de cortes.

- As medidas tomadas pela área econômica visam a preservar programas prioritários da área social. Uma parte do ajuste será feita por corte de despesa. E todos os ministérios estão não só cientes disso, como estão dispostos a colaborar para que o equilíbrio fiscal seja mantido. Evidentemente, hierarquizando as ações e preservando aquelas que são fundamentais para o desenvolvimento nacional - afirmou.

Certo mesmo de que não será prejudicado está Márcio Fortes. Na reunião com Lula, ele apresentou números que deixaram o presidente feliz. Segundo Fortes, as ações em áreas como habitação, saneamento e transporte tiveram cerca de 99% do valor empenhados. O ministro lembrou que, do orçamento de sua pasta, R$4,4 bilhões são destinados a obras do PAC e só R$110 milhões estão alocados para outras obras:

- O presidente disse para tocar as obras. Então, a intenção é fazer as coisas acontecerem.

Mas alguns ministros acreditam que não serão afetados e esforçam-se para fazer a equipe econômica ver um status social em suas ações. É o caso de Tarso Genro, da Justiça:

- Até agora, estou imune aos cortes. Não haverá cortes em segurança pública. Saúde, educação e segurança são prioridades para o governo Lula.

Tarso disse que o concurso para a Polícia Rodoviária Federal, previsto para 2008, está mantido. Apesar de não ter sido formalizada ano passado, a seleção estava acertada no governo.

- Quero contratar 3 mil policiais rodoviários federais, se Deus permitir e o Paulo Bernardo concordar - brincou Tarso.

O ministro Reinhold Stephanes, da Agricultura, embora não tenha se encontrado com Lula, disse que não recebeu orientação direta do presidente ou do Planejamento sobre sua cota de sacrifício, mas adiantou que não pretende passar a faca em três áreas estratégicas: a Embrapa, a Vigilância Sanitária e a Defesa Vegetal e Animal.

Lula discutiu com Meirelles, Mantega e Bernardo a conjuntura econômica, e os três fizeram uma avaliação da repercussão do anúncio das medidas. O governo está convencido de que, apesar dos protestos da oposição e dos empresários, não havia outra coisa a fazer que não aumentar impostos - apesar de o próprio presidente ter desmentido Mantega, no ano passado, quando o ministro adiantou parte das medidas.

COLABORARAM: Carolina Brígido e Mônica Tavares