Título: Partidos aliados advertem que cortes em emendas trarão dificuldades ao governo
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 04/01/2008, O País, p. 4

PACOTE DE ANO NOVO: Líderes da base reclamam por não terem sido avisados.

Oposição ameaça obstruir votações no Congresso contra as medidas.

BRASÍLIA. Um dia depois do lançamento do pacote para compensar as perdas da CPMF, o Palácio do Planalto recebeu um recado dos aliados: será preciso moderar nos cortes das emendas parlamentares ao Orçamento de 2008. Caso contrário, o governo terá dificuldades com a base aliada no Congresso. Líderes de partidos governistas demonstraram ontem preocupação com o fato de o governo não ter feito nenhuma consulta antes de anunciar as medidas. A oposição também ameaça complicar ainda mais a vida do governo no Congresso.

- Se continuar assim, nós devemos entrar num processo de obstrução e numa luta passo-a-passo. Nós vamos ser obrigados a ser mais resistentes do que nos cinco anos anteriores do governo Lula - disse o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).

Até mesmo o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), fez críticas ao governo.

- O encaminhamento das medidas foi equivocado. O governo disse que não iria aumentar impostos. O Planalto deveria ter chamado a oposição e a base aliada para debater. Estou preocupado com o acirramento da disputa no início do ano. O anúncio do pacote pode custar caro para o governo, já que não tem maioria estável e precisa negociar para aprovar projetos importantes e mesmo o Orçamento. Será preciso cautela para os cortes. Até porque corte em investimentos sempre tem conseqüências. Será a escolha de Sofia.

O líder do governo na Câmara, o petista Henrique Fontana (RS), também reconhece que o governo terá dificuldades:

- Essa questão do orçamento pode realmente criar problemas para o governo.

Numa avaliação semelhante, o líder do PP na Câmara, deputado Mário Negromonte (BA), cobrou do Planalto a necessidade de convocar o Conselho Político para discutir as medidas e, principalmente, avaliar os cortes no Orçamento. Segundo ele, a intenção da área econômica de cortar as emendas parlamentares irá prejudicar muito a relação com a base aliada:

- As medidas foram decididas na calada da noite, à revelia. Ninguém foi consultado. Todos nós fomos pegos de surpresa. O correto teria sido convocar antes o Conselho Político para discutir o pacote.

José Múcio vai procurar líderes

Os aliados estão preocupados com cortes nos ministérios que dirigem. Ontem, o presidente Lula chamou o ministro das Cidades, Márcio Fortes, que é ligado ao PP, para tranqüilizar o partido. Disse que as obras principais da pasta seriam poupadas de cortes, porque estão no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

Os demais partidos demonstram a mesma ansiedade. O líder do PR, deputado Luciano Castro (RR), deixou claro que os cortes não podem atingir o Ministério dos Transportes, pasta sob o comando de Alfredo Nascimento, filiado ao partido:

- Não tem como cortar o orçamento de estradas, ferrovias e portos. As estradas estão um caos. O pior que pode acontecer será um corte acentuado no orçamento. Aí, será uma insatisfação geral.

Cauteloso, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, quer aproveitar o mês de janeiro para tentar amenizar o desgaste do governo junto à base. Ele pretende iniciar na segunda-feira uma série de conversas com líderes aliados.

- Alguns parlamentares estão preocupados com o corte no Orçamento, o que é legítimo. Mas vamos deixar a poeira baixar. Ainda estamos no momento de descansar para depois voltarmos a conversar e resolver os problemas - disse Múcio.

Em reação às medidas, a senadora Kátia Abreu (DEM-TO) recomendou ao líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), que renuncie:

- Ele subiu à tribuna do Senado no dia da votação da DRU e se comprometeu com a oposição de que não haveria aumentos de impostos, mas sim uma reforma tributária. Então, se fosse ele, renunciaria ao cargo de líder, porque ele tem um nome a zelar e o descumprimento da palavra é explícito.

Jucá se defendeu:

- Conversamos com a oposição e aprovamos a DRU com o compromisso do governo de que não seria criado imposto novo, não se tentaria reeditar a CPMF. O governo iria discutir, na reforma tributária, o novo financiamento da saúde, porque a CPMF era majoritariamente destinada ao setor. Mas, no início do ano, o governo entendeu que era fundamental mostrar para a sociedade, para os analistas, para o mercado, como iria tratar esse déficit de R$40 bilhões resultante da derrubada da CPMF.

Com agências