Título: Pressão da equipe econômica convenceu Lula
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 04/01/2008, O País, p. 8

PACOTE DE ANO NOVO: Governo estava dividido e articuladores políticos sugeriam debate sobre pacote com a oposição

Presidente avaliou que, quanto antes as medidas fossem anunciadas, menor seria o estrago na área política

BRASÍLIA. O sinal verde para o anúncio das medidas que vão compensar os recursos perdidos com o fim da CPMF foi dado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva depois de fazer uma avaliação pragmática do quadro político. O governo estava dividido em relação ao procedimento que seria adotado. Enquanto os articuladores políticos defendiam mais tempo e debate para o anúncio, a equipe econômica pressionava com o argumento de que era preciso amenizar logo os efeitos das perdas da CPMF na economia.

Foi esse argumento técnico dos ministros Paulo Bernardo, do Planejamento, e Guido Mantega, da Fazenda, que convenceu Lula a autorizar o aumento de impostos, deixando de lado a promessa que fez antes do Natal de não aumentar a carga tributária. O presidente concluiu que as medidas, de qualquer forma, teriam reflexos negativos na política.

O ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, e o líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), defendiam um diálogo com o Congresso e com a oposição, antes de anunciar as medidas. Consideravam que esse diálogo seria importante para tirar da oposição o discurso de que o Planalto era arrogante.

Mas, segundo um assessor palaciano, o presidente Lula avaliou que dificilmente o PSDB e o DEM iriam ajudar no debate. Pelo contrário. A suspeita é de que, chamada para o diálogo, a oposição dificultaria ao máximo as propostas do governo até inviabilizar algumas das medidas fiscais para compensar a CPMF. Para evitar esse risco, Lula autorizou o anúncio das medidas pelos ministros Mantega e Paulo Bernardo.

Relação azedada com a oposição

Ontem, um ministro com interlocução direta com o presidente resumiu o pensamento de Lula: qualquer solução teria reflexos negativos e quanto antes anunciasse as medidas - positivas do ponto de vista econômico - menos elas prejudicariam o governo na área política, já que o Congresso está de recesso. Com isso, o Planalto espera que até fevereiro o reflexo negativo do pacote já tenha sido amenizado.

A constatação interna é de que azedou muito a relação do Planalto com a oposição desde a derrota da CPMF no Senado, e que pode piorar. Mas a conclusão é que, a cada tempo, a solução de um problema. Agora, o governo começa a resolver o problema do rombo no orçamento. Depois, quando o Congresso voltar, busca a retomada do diálogo.

Ontem, um dia depois do anúncio do pacote, Lula ainda determinou a Paulo Bernardo que faça uma proposta de racionalização dos gastos públicos em, no máximo, 20 ou 30 dias. Os cortes nos gastos serão apresentados como uma resposta a setores da sociedade que criticam o governo pelo que consideram excessos de gastos.

Anteontem, o governo anunciou que pretende cortar R$20 bilhões de gastos nas três esferas de poder: Executivo, Legislativo e Judiciário. Os ministérios já foram instados a estudar onde a tesoura pegará. Mas Lula quer mais eficiência também nos gastos. A oposição sempre criticou o governo por acreditar que se gasta mal.