Título: Ingresso de dólar no país bate recorde histórico
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 04/01/2008, Economia, p. 19

Fluxo cambial termina o ano com saldo de US$87 bilhões, influenciado pelo resultado da balança comercial

BRASÍLIA. A confiança dos investidores na economia brasileira e o desempenho da balança comercial levaram o fluxo cambial - entrada e saída de moedas estrangeiras - a fechar 2007 com saldo positivo de US$87,454 bilhões. Esse foi o melhor resultado desde o início da série histórica do Banco Central (BC), em 1982. O superávit foi obtido com US$76,746 bilhões na chamada conta comercial (contratos de exportação e importação) e com o ingresso líquido de US$10,708 bilhões em investimentos estrangeiros em ações, fundos e títulos públicos. Foi o quinto ano consecutivo de fluxo cambial positivo no Brasil.

Segundo os analistas, a atração recorde de recursos estrangeiros reflete o bom momento da economia brasileira, que conta com fundamentos sólidos, especialmente em relação às contas externas e ao aquecimento da economia. Isso favoreceu a procura de estrangeiros por ações de empresas brasileiras e por outros tipos de aplicações financeiras, bem como a atração de investimentos estrangeiros diretos, destinados ao setor produtivo - que em novembro já haviam batido recorde, superando até o ano 2000, marcado pelas privatizações.

Preços de "commodities" ajudam no bom desempenho

O cenário externo também contribuiu, ao manter em alta os preços das commodities internacionais, garantindo um patamar elevado das exportações. O mercado credita ainda ao fechamento antecipado de contratos de câmbio pelos exportadores - que, diante da desvalorização crescente do dólar, temem perder receita se fecharem suas vendas num prazo mais longo - um bom impulso à conta comercial.

Isso porque, nesta rubrica, além dos embarques e desembarques feitos efetivamente no período de análise, estão contabilizadas qualquer operação de câmbio referente ao comércio exterior - independentemente de a mercadoria ter sido entregue. Por isso, o saldo difere do da balança comercial, anunciado quarta-feira, de R$40,39 bilhões.

- O resultado significa mais confiança na economia brasileira - resume Alexandre Ferreira, vice-presidente-sênior de moeda estrangeira do banco de investimentos WestLB.

Para evitar que o dólar derretesse ainda mais frente ao real no ano passado (a perda foi superior a 17%), o BC teve que enxugar do mercado boa parte desses recursos estrangeiros. A fórmula encontrada para fazê-lo foi acumular, ao longo de 2007, mais reservas internacionais. Segundo dados consolidados, elas fecharam dezembro de 2006 em US$85,835 bilhões. Nos 12 meses do ano passado, a autoridade monetária aumentou este montante em US$94,499 bilhões, fechando o ano com US$180,334 bilhões. A alta foi de 110%, conduzindo o indicador a seu maior patamar. No primeiro dia útil do ano, foi incorporado mais US$1,036 bilhão, elevando as reservas a US$181,37 bilhões.

Os dados sobre a posição cambial dos bancos (comprados ou vendidos em moeda estrangeira) revelam que o BC tirou de circulação US$1,9 bilhão. Segundo o economista-sênior do Unibanco Darwin Dib, foi uma média diária muito baixa, de US$93 milhões, contra US$325 milhões em outubro e US$232 milhões em novembro.

- Há uma moderação no apetite do BC no sentido de intervir no mercado de câmbio, o que pode indicar que a instituição está menos sensível ao movimento de apreciação do real no curto prazo - afirmou Dib, acrescentando que é preciso aguardar este mês para ver qual será a tendência.

- É possível concluir que os fundamentos indicam uma leve valorização do real daqui para frente - reforçou Alexandre Ferreira.