Título: Violência contra turistas é maior
Autor: Goulart, Gustavo
Fonte: O Globo, 05/01/2008, Rio, p. 10

Hotéis passam a informar casos à Deat, por e-mail, e número de registros dobra.

Uma iniciativa da Delegacia Especial de Atendimento ao Turista (Deat), aprovada durante reuniões do Conselho Integrado de Segurança Turística no ano passado, está mostrando a verdadeira face da violência contra estrangeiros na orla de Copacabana. Há quatro meses, os 35 hotéis da Avenida Atlântica estão enviando, por e-mail, à Deat relatos de furtos e roubos ocorridos contra hóspedes que não quiseram registrar queixa na delegacia. Resultado: de uma média de 30 casos registrados por mês, o número de ocorrências dobrou. A média, desde então, está em 60 ocorrências mensais ou dois casos por dia, segundo relatório preparado pela equipe do delegado Fernando Veloso, da Deat.

Mas, a partir da semana que vem, os números tenderão a aumentar ainda mais. Para normatizar os relatos vindos dos hotéis, até então deficientes, sem informações importantes, a Deat elaborou um relatório virtual que será enviado a todos os 400 hotéis filiados à Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) no Rio, a partir de segunda-feira. Nele, há espaços para informações como o número de autores, a arma utilizada, o local, a descrição física dos bandidos, a dinâmica do fato e os dados da vítima. A experiência com a rede hoteleira da orla de Copacabana foi o balão de ensaio do projeto, segundo o presidente da ABIH-Rio, Alfredo Lopes, para quem o sistema estará em pleno funcionamento em toda a rede hoteleira da cidade até antes do carnaval.

Avenida Atlântica teve 583 casos

De acordo com o delegado Fernando Veloso, o objetivo é diminuir as subnotificações para se ter uma estatística mais verdadeira do número de casos de ataques a turistas no Rio.

- Neste período de experiência, registramos 130 casos a mais do que o normal. Precisamos ter uma idéia mais exata do que acontece contra turistas. Entre o prejuízo de se ter uma cifra enorme e correr o risco de ter dados que não são tão reais prefiro a primeira opção. Todos os casos vindos por e-mail estão sendo transformados em registros de ocorrência, mas que não servem para que as vítimas tenham direitos, como receber seguro indenizatório, por exemplo. São para diminui as subnotificações. Certamente o número vai aumentar bastante.

Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), a Avenida Atlântica foi a campeã em número de casos em 2007. Foram 343 furtos e 240 roubos contra turistas. A Vieira Souto vem em segundo, com 184 furtos e 44 roubos. A Avenida Nossa Senhora de Copacabana, em terceiro, registrou 46 furtos e 34 roubos. No ano passado ocorreram 2.457 crimes contra o patrimônio e dois contra a vida, entre eles a morte do italiano Giorgio Morasse, de 29 anos, atropelado ao se atracar com um ladrão.

Os dados enviados pelos hotéis contêm casos ocorridos meses antes do início da experiência. Por exemplo, hóspede de um hotel cinco estrelas da orla do bairro, Victor Mendonza Miranda foi atacado na areia da praia, em frente à boate Help, por ladrões que roubaram sua câmera digital e US$400 (R$704). O caso ocorreu às 22h45m do dia 23 de maio e gerou o registro de ocorrência 906-02263/2007. A gerência do mesmo hotel enviou outro e-mail à Deat no mesmo dia, informando sobre o assalto sofrido pelo hóspede Sukhija Dushyani, às 6h do dia 30 de abril. Foram roubados euros e reais, cujo valor não foi informado. A Deat catalogou o caso no registro 906-02261/2007 e ressalvou: "Fato noticiado pela segurança de um hotel de Copacabana, razão pela qual os dados estão muito incompletos". Esses dados ainda estão sendo computados pelo ISP.

Em outro e-mail enviado à Deat, policiais relatam o caso: "Comunicação feita através de mensagem eletrônica transmitida pelo e-mail (exclusivo da Deat), tendo como remetente o gerente de segurança patrimonial de uma rede de hotéis, relatando furtos ocorridos na área externa do hotel, os quais não foram objeto de comunicação pelas vítimas nesta UPJ (Unidade de Polícia Judiciária). O comunicante informa que o fato ocorreu no dia 7 de abril de 2006, por volta de 1h20min, quando o hóspede do quarto 1.616, de nome Alirio Roman, encontrava-se na Avenida Atlântica, esquina com Rua Miguel Lemos, quando vários menores roubaram sua máquina fotográfica digital".

O presidente da ABIH, Alfredo Lopes, ressalta, no entanto, que o crime relatado pelo hotel não vale como registro oficial.

- É mais uma forma de monitorarmos a violência contra estrangeiros na cidade. Estamos colocando todos os hotéis integrados. Toda a rede hoteleira terá rádio de comunicação com o número da Guarda Municipal, do Batalhão de Policiamento de Áreas Turísticas (BPTur) e da Deat - disse Lopes. - O esquema dos relatos feitos pelos hotéis tem uma justificativa. Um turista que é assaltado em Copacabana, por exemplo, não faz questão de registrar, no Leblon, a perda de seu celular e uma quantia pequena de reais. Ele está aqui para se divertir, mas, para nós, que trabalhamos para o bem-estar deles, isso é muito importante.