Título: Surpreso, BB suspende crédito rural
Autor: Rodrigues, Lino; Ribeiro, Erica
Fonte: O Globo, 05/01/2008, Economia, p. 19

Empréstimos a agricultores, que eram isentos de IOF, vão ficar mais caros.

BRASÍLIA. O Banco do Brasil foi pego de surpresa com o decreto do governo que incluiu os financiamentos agrícolas entre as modalidades oneradas com a cobrança do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) a uma alíquota de 0,38%. A instituição é o principal agente financeiro do crédito rural e tem uma projeção de empréstimos de R$40 bilhões para a safra 2007/2008, dos quais apenas R$15,6 bilhões já foram desembolsados. A decisão levou ontem o BB a suspender temporariamente todos os empréstimos ao campo, até então isentos da cobrança do imposto, para adaptação do sistema. A previsão é que a situação seja normalizada somente no fim da próxima semana.

Segundo fontes do banco, os tomadores não serão prejudicados, porque as liberações estão em baixa, mas elas voltam a crescer em fevereiro, quando começam as safras nas regiões Norte e Nordeste e as chamadas safrinhas no Sudeste e no Centro-Oeste. Produtores dessas localidades terão um custo maior com os financiamentos. Eles também não poderão mais usar um artifício para fugir da antiga CPMF, que consistia em pedir ao banco para liberar o dinheiro direto ao fornecedor.

Na compra de um trator, por exemplo, em um empréstimo de R$100 mil, o produtor poderia economizar R$380 com a transferência direta dos recursos. Agora, não pode mais, porque o IOF incide diretamente nas operações financeiras. O valor será cobrado a cada liberação das parcelas do empréstimo.

O Bradesco é outro banco forte no segmento, operando com recursos próprios, mas, procurado, não quis se manifestar sobre os possíveis impactos da medida.

Produtores devem repassar custo para consumidor

No caso do Banco do Brasil, os juros são subsidiados pelo Tesouro Nacional. Na safra anterior, o BB liberou R$33 bilhões em créditos agrícolas, sendo R$3 bilhões para a agricultura familiar. A instituição não quis se pronunciar oficialmente sobre o novo imposto. Fontes disseram que não está claro se a cobrança vai incidir também sobre o seguro agrícola, uma aposta do banco para expandir o crédito no segmento.

Representantes da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) criticaram a decisão do governo e afirmaram que o custo deverá ser repassado ao consumidor. A taxação, segundo eles, é um desestímulo ao setor.

- É um absurdo. Na realidade, quem vai pagar a conta é o coitado do consumidor. Inevitavelmente, os custos serão repassados e, mais uma vez, o governo vem tirar do setor agrícola, que é quem dá rentabilidade ao governo via exportações - afirmou Antenor Nogueira, presidente do Fórum Nacional de Pecuária de Corte da CNA.

- Alguém vai ter de arcar com isso. Teremos um ônus a mais e somos a parte mais fraca da cadeia produtiva. A rede varejista e a indústria sempre fazem as suas imposições - disse o presidente da Comissão Nacional de Pecuária Leiteira da CNA, Rodrigo Alvim, dando a entender que o repasse do custo adicional não será fácil.