Título: Para indústria, cenário com a CPMF era pior
Autor: Rodrigues, Lino; Ribeiro, Erica
Fonte: O Globo, 05/01/2008, Economia, p. 19

Exportadores reclamam que nova tributação tira competitividade da produção do país.

BRASÍLIA. Ainda sem condições de calcular o impacto do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) em suas planilhas, o setor produtivo, de forma geral, considera o cenário atual melhor do que com a CPMF. Já os exportadores se dizem frustrados, por terem apostado que, com o fim do imposto sobre o cheque, as vendas ao exterior ficariam mais competitivas.

- Antes, a CPMF tirava R$40 bilhões da economia, e agora serão retirados apenas R$8 bilhões, pelo menos - ponderou o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, que encabeçou, ao longo do ano passado, um gigantesco lobby no Congresso para acabar com a CPMF.

Skaf acredita que o crédito ao consumidor poderá ser inibido:

- O ruim é que esse aumento da tributação afetará os pobres, que precisam de empréstimos, e não os ricos, que aplicam seus recursos no mercado financeiro (investimentos são isentos de IOF).

- A CPMF era um tributo pesado, mas a alta de IOF e da CSLL para as instituições financeiras afetará um insumo usado por todas as empresas, o crédito - disse Flávio Castelo Branco, economista-chefe da CNI.

Para o vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), José Augusto de Castro, o país perdeu uma grande oportunidade de ser mais competitivo do que antes:

- Isso ocorre principalmente com os manufaturados, que não têm o benefício de que as commodities gozam hoje, que é a elevação dos preços internacionais. Uma alíquota de 0,38% não é nada para os exportadores de soja, por exemplo, em um cenário em que a cotação do produto sobe 1% ao dia.

Ele destacou que, pelas regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), não se devem tributar as exportações.

- Isso tira a competitividade dos produtos brasileiros, principalmente os de maior valor agregado - disse o presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, deputado Julio Semeghini (PSDB-SP).

Segundo o diretor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Julio Gomes de Almeida, o fato de o governo ter elevado a tributação sobre o crédito tem lógica:

- O Banco Central está de olho gordo na utilização da capacidade instalada das indústrias brasileiras, que está altíssima, e está louco para aumentar os juros.