Título: Teste revela alta chance de menino ser Emmanuel
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Fonte: O Globo, 05/01/2008, O Mundo, p. 25

Prova de DNA mostra "total coincidência" com família de Clara Rojas. Irmão está convencido de que criança é seu sobrinho.

SANTA MARTA, Colômbia. O procurador-geral da Colômbia, Mario Iguarán, revelou ontem que o teste de DNA feito num menino sob os cuidados do serviço social e na família de Clara Rojas, seqüestrada pela guerrilha em 2002, mostra uma grande possibilidade de que se trate de Emmanuel, o filho da refém nascido no cativeiro.

- Há uma probabilidade muito alta de que pertença à família de Clara González Rojas (mãe da refém). Cientificamente, não é de cem por cento, mas observa-se no DNA mitocondrial de Juan David uma total coincidência com o DNA de dona Clara González de Rojas - disse Iguarán.

Iguarán informou que as provas serão enviadas ao Instituto de Medicina Legal da Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha, para ratificar o resultado. Ele explicou que essa "é uma prova sem os marcadores" relativos ao pai, já que "o DNA mitocondrial tem a ver com a linhagem materna", mas que a possibilidade é de o menino pertencer à família de Clara mais do que a qualquer outra família.

Iguarán contou que o defensor familiar que encaminhou o menino apresentado como Juan David Gómez Tapiero ao serviço social foi degolado em novembro. Segundo ele, o homem que tentou retirar a criança do orfanato disse que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) exigiram sua entrega antes de 30 de dezembro.

A revelação representa um grande golpe para as Farc, que haviam prometido entregar Clara, Emmanuel e a ex-deputada Consuelo González ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez. E confirma a tese do presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, de que a libertação não ocorreu porque a guerrilha não tinha mais o menino em mãos.

Venezuela lança dúvidas sobre teste colombiano

Nos últimos dias de 2007, Chávez enviou uma comitiva internacional à Colômbia para assistir à libertação dos reféns. Mas as Farc cancelaram a operação alegando ações militares. Uribe respondeu acusando o grupo de nunca ter pretendido libertá-los pois já não teria Emmanuel, de 3 anos. Este teria sido encaminhado, doente, ao Instituto Colombiano de Bem-Estar Familiar (ICBF) em 2005, em Guavire, e identificado como Juan David.

Segundo o jornal "El Tiempo", uma ligação telefônica a uma base do Exército em 28 de dezembro revelou que um menino ia ser retirado de um orfanato em Bogotá com documentos falsos. Três dias depois, outra ligação dizia que o menino era o filho de Clara Rojas, ex-companheira de chapa de Ingrid Betancourt na disputa presidencial, com um guerrilheiro. José Crisanto Gómez, que levou Juan David a um hospital em El Retorno, 290 quilômetros a sudeste de Bogotá, em 2005, está sob proteção policial. Segundo ele, Juan David era uma criança "das Farc" e herdou o nome do pai.

Iván Rojas afirmou estar certo de que o menino é seu sobrinho. Advogados da família disseram que se for confirmada a identidade, a guarda deverá ser entregue à avó ou ao tio. No momento, o menino, que nasceu com um problema no braço, continua com o ICBF.

- Se há dúvidas por parte de alguém, que liberem (Clara) e façamos um exame diretamente entre mãe e filho - disse Ivan.

Em Caracas, o chanceler da Venezuela, Nicolás Maduro, manifestou dúvidas sobre o teste e disse que Bogotá recusou que especialistas venezuelanos realizassem uma análise paralela.

- Essa atitude lança um manto de dúvidas sobre a investigação - disse Maduro.

O Exército colombiano anunciou que está preparado para enfrentar a ofensiva geral declarada pelo líder das Farc, Manuel Marulanda, na véspera. Já o governo pediu que Clara e Consuelo sejam libertadas.