Título: Intolerância afeta 44% dos brasileiros em Portugal
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Fonte: Correio Braziliense, 24/04/2009, Mundo, p. 32

Relatório da União Europeia revela que imigrantes consideram altos os níveis de discriminação no país. Preconceito ocorre até em bares e lojas

Uma pesquisa realizada em Portugal indica que 44% dos 64 mil brasileiros que estão legalmente no país já sofreram algum tipo de discriminação no último ano. O estudo, publicado pela Agência de Direitos Fundamentais da União Europeia (FRA, pela sigla em inglês), mostra ainda que 74% dos brasileiros residentes em Portugal consideram os níveis de discriminação e racismo bastante altos. A emissora britânica BBC informa que o preconceito fica evidente quando os imigrantes tentam abrir contas em bancos ou quando procuram emprego, moradia, serviços de saúde e de assistência social. Eles também recebem tratamento diferente em bares, restaurantes e lojas.

O relatório da FRA sobre os direitos básicos nos 27 países da União Europeia teve por base entrevistas com 23,5 mil imigrantes e membros de minorias étnicas. Um total de 37% dos que se encaixam nessas categorias afirmam já ter sofrido algum tipo de discriminação, enquanto 55% consideram tal atitude como amplamente difundida no país em que escolheram viver. Dos países incluídos no estudo, Portugal foi o único a conter dados relacionados especificamente à comunidade brasileira.

Em entrevista pela internet ao Correio, Pammela Saraiva, de 24 anos, contou sua experiência quando foi para Cascais e Lisboa, em Portugal. A cearense de Fortaleza passou três meses no país. Tinha como projeto inicial estudar. No entanto, como não portava toda a documentação necessária, desistiu da ideia e continuou no país. Pammela conta que já sofreu preconceito em Portugal, assim como muitos brasileiros. ¿Somos obrigados a fazer qualquer tipo de trabalho, e temos de fazê-lo por horas, recebendo uma `merreca¿. E as pessoas não te respeitam nas ruas, principalmente quando é uma mulher brasileira, pois as portuguesas acham que vamos roubar seus maridos¿, revela.

Olhos tortos Pammela teve de trabalhar lavando pratos e fazendo faxina. ¿Brasileiro sobrevive a tudo, isso é fichinha¿, afirma. Ela explica que nunca sofreu violência por causa da discriminação. ¿Eu também jamais ia deixar, porque, mesmo sendo imigrante, temos os nossos direitos. As pessoas te olham com olhos tortos. Além disso, eu nunca iria para um país sem saber dos meus direitos¿, garante. Questionada se, caso fosse uma vítima desse tipo de situação, ela denunciaria, a jovem diz que sim, ¿mesmo sabendo que nada aconteceria¿.

Segundo a FRA, 82% dos imigrantes que admitem sofrer discriminação não denunciam às autoridades locais. Em 80% dos casos, isso ocorre porque as vítimas desconhecem a existência de instituições de apoio. Esse foi o mesmo motivo dado por 92% dos brasileiros entrevistados em Portugal. Para 40% dos entrevistados, esses incidentes já são considerados algo normal, enquanto 64% deles duvidam que fazer denúncias mudaria a situação.

-------------------------------------------------------------------------------- Racismo em exposição

Principais conclusões do relatório da Agência de Direitos Fundamentais da União Europeia

BRASILEIROS

44% dos 64 mil brasileiros que residem legalmente em Portugal sofreram algum tipo de discriminação nos últimos 12 meses

74% dos brasileiros consideram alto o nível de discriminação e racismo em Portugal

NÚMEROS DA PESQUISA

23.500 imigrantes e membros de minorias étnicas de 27 países europeus foram consultados para a pesquisa

12% das pessoas que se incluem em um desses grupos foram vítimas de algum tipo de violência motivada por questões racistas nos últimos 12 meses, entre elas roubos, ameaças e assédios

37% dessas pessoas afirmam ter sido discriminadas de alguma forma nos últimos 12 meses

6 milhões dos 12 milhões de ciganos que vivem em países da União Europeia foram vítimas de discriminação no último ano

36% dos imigrantes norte-africanos e 41% dos subsaarianos afirmam ter sofrido algum tipo de preconceito

82% das vítimas não denunciaram a agressão às autoridades