Título: Farc reconhecem que não têm Emmanuel
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Fonte: O Globo, 06/01/2008, O Mundo, p. 40

Admissão da guerrilha reforça suspeita de que menino deixado em orfanato é mesmo o filho da refém Clara Rojas

BOGOTÁ. As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) admitiram que não estão com Emmanuel, filho da refém Clara Rojas com um guerrilheiro. Em comunicado divulgado no fim da noite de anteontem pela Agência Bolivariana de Imprensa, o grupo acusou o governo colombiano de ter "seqüestrado" a criança quando ela estava prestes a ser libertada. A admissão das Farc soou como uma confirmação indireta de que o menino cujo teste de DNA o teria ligado à família de Clara Rojas é mesmo Emmanuel.

Segundo o comunicado, assinado pelo secretariado do Estado-Maior Central das Farc, a ação do governo do presidente Alvaro Uribe foi realizada para "sabotar" a libertação do menino nascido em cativeiro, da sua mãe e da ex-deputada Consuelo González de Perdomo.

Mãe de refém vai pedir a custódia da criança

O resultado de um exame de DNA, divulgado anteontem, indicou que um menino internado num orfanato e registrado com o nome Juan David Gómez Tapiero quase certamente pertence à família de Clara Gonzalez de Rojas, mãe de Clara Rojas. A revelação afetou a credibilidade da guerrilha, que havia se comprometido a entregar o menino e as outras duas reféns ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

Antes do comunicado das Farc, apenas com os resultados do DNA, a avó de Emmanuel afirmou em Caracas que vai pedir ao Instituto Colombiano de Bem-Estar Familiar (ICBF) a custódia da criança.

- Estou feliz em saber que ele está livre. Mas minha felicidade ainda não é completa - disse Clara González de Rojas, que teve sua filha seqüestrada em 2002.

A diretora do ICBF disse que a avó poderá ter a guarda após um processo bem simples de cerca de dois meses.

Os dirigentes das Farc afirmaram que "a opinião pública entende bem que Emmanuel não poderia estar em meio a operações bélicas da Operação Patriota, dos bombardeios e combates, com mobilização permanente". Ainda de acordo com as Farc, "o menino, filho de pai guerrilheiro, havia sido enviado a Bogotá sob o cuidado de pessoas honradas, enquanto se discutia o acordo humanitário".

A hipótese de que Emmanuel estaria num orfanato foi levantada por Uribe no dia 31 último, após as Farc terem acusado o governo de intensificar ações na região em que os reféns seriam entregues. Na ocasião, Uribe disse que o atraso na libertação se devia ao fato de o menino não estar com as Farc. Não está claro, porém, desde quando o governo suspeitava de que o menino registrado como Juan David Gómez Tapiero poderia ser Emmanuel.

Ontem, em entrevistas às emissoras RCN e Caracol Radio, o alto comissário para a Paz da Colômbia, Luis Carlos Restrepo, qualificou o comunicado da guerrilha como "mentiroso, incoerente e absurdo". Segundo Restrepo, "o país já está acostumado às mentiras" proferidas pelas Farc.

- Não vale a pena ficarmos analisando os despropósitos que motivam as Farc. A única coisa que podemos aproveitar de seu comunicado é o fato de eles reiterarem que vão libertar Clara e Consuelo - afirmou o alto comissário, antes de insistir que seria importante que a guerrilha cumprisse seu compromisso de deixar livres as reféns imediatamente.

Analistas internacionais acreditam que, apesar da promessa das Farc, o episódio deve piorar as perspectivas de novas negociações acerca dos reféns. A guerrilha disse que o processo de libertação "seguirá seu curso", como havia prometido ao presidente Hugo Chávez. E acrescentou que, para isso, não estão "pedindo ao senhor Uribe nenhum corredor de segurança".

Guerrilha mantém 750 reféns capturados

Se a libertação for concretizada, será a primeira vez na história do conflito colombiano que as Farc entregam de forma unilateral um grupo de seqüestados. Os guerrilheiros mantêm cerca de 750 reféns, entre eles a ex-senadora e ex-candidata à presidência da Colômbia Ingrid Betancourt, que é franco-colombiana, e três americanos capturados em operações antidrogas no país.

No comunicado, as Farc insistem que, para retomar o acordo humanitário para a troca de 45 reféns por 500 guerrilheiros presos, o governo da Colômbia deve determinar a retirada militar dos departamentos colombianos de Pradera e Florida.

FARSA DESMONTADA, na página 4