Título: Baixos salários dificultam qualificação
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 06/01/2008, O País, p. 8

Professores da rede pública enfrentam dura rotina para sobreviver.

A recompensa financeira por 35 anos de dedicação integral à profissão: R$900 mensais, salário que pode ser considerado o ápice da carreira de professor da rede pública, no Rio de Janeiro. Maristela Costa Machado, 58 anos, moradora da comunidade de Luiz Caçador, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio, lembra do tempo em que a profissão era valorizada. E anuncia: é hora de se aposentar.

- Está na hora de passar o bastão. Não dá mais para adiar. Antigamente, era diferente. Hoje o profissional não está sendo valorizado nem financeiramente nem de jeito algum. Os governos se ocupam em menosprezar a classe - afirma Maristela, professora da 1ª a 4ª série do ensino fundamental, no Ciep Vital Brazil, em São Gonçalo.

Professor faz bicos para sustentar a família

Para sustentar a mulher e o filho de 18 anos, o professor de Geografia Carlos Alberto de Souza Carvalho, de 49 anos, às vezes precisa fazer bicos. Morador de uma casa de três cômodos na favela do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, ele ganha R$540 por mês, para dar aulas aos alunos dos últimos anos do ensino fundamental e para o ensino médio. A maior preocupação de Carlos Alberto é a impossibilidade de se manter atualizado:

- Fica difícil até organizar o conteúdo das aulas. Muitas vezes, os professores não têm como consultar a internet ou como ler um jornal. É preciso que estejamos antenados para as mudanças. Mas o que acontece é que ficamos perdidos até na hora de passar o conteúdo aos alunos - diz Carlos Alberto.

A educadora Tania Zagury, 36 anos de carreira e autora do livro "O Professor Refém", afirma que, hoje, apenas uma vocação "incrível" ou a falta de opção atraem o professor para a sala de aula:

- Com o que ganha e com o número de aulas que é obrigado a dar, o professor não consegue fazer o que se preconiza para educação de qualidade, que é que se atualize, que seja criativo. É uma carreira em que não ha como o profissional progredir. Nunca se aviltou tanto uma carreira. E ao mesmo tempo o professor é um verdadeiro herói. Além de ganhar pessimamente, as condições de trabalho na sala de aula são péssimas - afirma a educadora.

Moradora de Mesquita, na Baixada Fluminense, a professora Maria Aparecida de Figueredo, de 30 anos, reconhece que a recompensa para o trabalho é praticamente inexistente:

- Eu tenho prazer em fazer o que gosto. Mas se não morasse com a mãe e as minhas irmãs, sei que esse salário não me sustentaria - afirma Maria Aparecida, que ganha R$564.