Título: Febre amarela: governo vai intensificar vacinação
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 07/01/2008, O País, p. 5

Saúde diz que vai distribuir para Goiás e DF 300 mil doses e admite que há risco remoto de reurbanização da doença.

BRASÍLIA. Com receio de que seja espalhado o pânico, diante da morte em Goiás do trabalhador rural João Batista Gonçalves, 31 anos, com sintomas da febre amarela - após a morte de dezenas de macacos infectados com a doença na região -, o Ministério da Saúde afirmou ontem que não há risco de faltar vacinas no país. O ministério está remanejando 300 mil doses da vacina para Goiás e o Distrito Federal, onde também morreram macacos com o mesmo diagnóstico. Técnicos dizem que há o risco, embora mínimo, de reurbanização da doença, banida das cidades brasileiras desde 1942.

Governo negocia aumento na produção de vacinas

Atualmente, segundo o ministério, o Brasil possui em estoque cerca de um milhão de doses do medicamento em Minas, Pará e Amazonas. Mas como há uma corrida aos postos de saúde em Goiás e no Distrito Federal, em busca da imunização, o governo negocia com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) a ampliação da produção de vacinas contra a doença.

- Posso garantir que não faltarão vacinas. Além do nosso estoque estratégico, fabricamos a vacina no Brasil. A situação está sob controle - afirmou Giovaninni Coelho, assessor técnico da Secretaria de Vigilância de Saúde do Ministério da Saúde. - A confusão que vemos nos postos de saúde é porque há muitas pessoas que, alarmadas, vão aos postos mesmo imunizadas, pois a vacina vale por dez anos. Muitos se esquecem que se vacinaram há quatro, cinco anos, por exemplo.

Coelho disse que o combate à febre amarela é uma rotina na Região Centro-Oeste, onde a doença ocorre nos ambientes rurais e silvestres, mas frisou que o desafio é evitar que ela volte a ser urbana. Segundo ele, há preocupação porque a morte de cerca de 50 macacos ocorreu em regiões muito próximas às cidades de Brasília, Goiânia e Aparecida de Goiás:

- O risco da reurbanização da doença sempre existe, embora acreditamos que seja remoto. Além disso, estamos intensificando o combate ao aedes aegypt, o mosquito transmissor da dengue, que também pode transmitir a febre amarela.

O técnico do Ministério da Saúde contou que na região da capital federal foi intensificado o uso dos caminhões de propagação de veneno contra o mosquito - o fumacê -, além do aumento de funcionários que atuam na conscientização da população contra os pontos de água parada, principais criadouros do aedes aegypt.

Coelho lembrou que a febre amarela silvestre tem caído no Brasil: de 85 casos em 2000 para 6 no ano passado. Segundo ele, o país tem um alto índice de vacinação da população, mesmo com o aumento do ecoturismo.

Imunização deve ser feita dez dias antes da viagem

Até o momento, não há motivos para mudar o procedimento dos visitantes que chegam ao Centro-Oeste. Segundo o técnico, devem tomar a vacina todos que vão para atividades longe das cidades, como pescarias ou ecoturismo na Chapada dos Veadeiros.

- A vacina é gratuita e tem nos postos de saúde. É importante lembrar que é necessário tomá-la com dez dias de antecedência, antes da viagem.

Nos próximos dias laudos laboratoriais deverão confirmar oficialmente que o agricultor João Batista Gonçalves, enterrado ontem em Petrolina, nos arredores de Goiânia, morreu mesmo de febre amarela. Ele provavelmente foi infectado numa fazenda em Uruaçu, a 287 quilômetros de Goiânia, onde trabalhava havia dois meses.

Coelho lembrou que o cuidado extra contra a febre amarela pode auxiliar no combate à dengue. A expectativa das autoridades é que haja este ano uma redução nos números de casos da doença - depois de aumento de 50% na incidência em 2007. A prioridade do governo, contudo, é diminuir o número de mortos por dengue: 136 em 2007.

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