Título: Hillary: alvo agora é Obama
Autor: Martins, Marília
Fonte: O Globo, 07/01/2008, O Mundo, p. 21

Após Iowa, senadora abandona ataques a republicanos e inicia ofensiva contra concorrente direto.

Oembate de amanhã nas primárias de New Hampshire terá uma Hillary Clinton bem mais agressiva do que em Iowa. Nada sobrou do antigo discurso que mirava republicanos, como se a indicação de seu partido fosse inevitável. Ela agora partiu para a guerra com seus concorrentes democratas.

Hillary circulou por comícios em escolas e universidades para mostrar que também é capaz de atingir estudantes. Fez discursos mais curtos e reservou a maior parte do tempo para responder perguntas da platéia. E no último debate entre os democratas na TV bateu firme em Barack Obama. Insistiu na tecla de que não se faz mudança sem experiência. Disse que Obama é bom de discurso, mas não age de acordo com o que fala. Lembrou que ele garante ser contra a guerra, mas no Senado votou para aumentar as verbas para o conflito no Iraque. Acusou Obama de prometer um plano de saúde que não cobre todos os americanos e disse que ele tem como principal assessor de campanha, em New Hampshire, um lobista que trabalha para companhias farmacêuticas.

A mudança de atitude de Hillary mostra que sua campanha tenta frear o "fenômeno Obama", mas que seus assessores continuam preocupados. O prefeito de Boston, Thomas Menino, enviou para New Hampshire uma força-tarefa de 200 voluntários para reforçar a campanha. Hillary fez comício na Nashua North High School, domingo, para 350 pessoas, enquanto Obama levou 2.000 ao mesmo lugar, no sábado. Ela fez brincadeiras, disse que, se eleita, preferia chamar o marido de "first mate" (primeiro companheiro), mas que Bill preferia "first laddie" (primeiro rapaz). Prometeu a todo americano o mesmo plano de saúde dos congressistas, declarou-se a favor de um "comércio pelo progresso e não do uso do comércio como retaliação, como defende Bush". E o que ela chama de "comércio pelo progresso" é "rever os tratados comerciais americanos para ver em que eles beneficiam os EUA, e caso contrário simplesmente descartá-los"

Obama em ascensão em sondagens

A equipe da senadora andou em alerta contra as tendências das várias pesquisas de opinião. A CNN, em parceria com a WMUR e a Universidade de New Hampshire, divulgou, logo após o debate, uma pesquisa em que Hillary e Obama aparecem empatados, com 33% das intenções de voto, enquanto John Edwards aparece em terceiro, com 20%. Já a pesquisa Reuters/C-SPAN/Zogby indicou Hillary com 31% e Obama com 30%. Mas uma nova sondagem, desta vez feita pelo Instituto Rasmussen, revelou o quadro ainda mais dramático: Obama teria 37% das intenções de voto, e Hillary estaria dez pontos atrás, com 27%, e Edwards com 18%. O que é pior: a pesquisa mostrou que Hillary amarga o maior índice de rejeição: dos que se declararam com intenção de ir votar, 85% têm boa impressão de Obama, 78% vêem favoravelmente Edwards e só 69% simpatizam com ela. No debate da TV, apareceu uma pergunta sobre o elevado índice de rejeição: muitos eleitores concordam com suas idéias, mas não simpatizam com a sua figura.

- Isto me magoa muito, mas espero que a maioria em New Hampshire não ache que eleição é um concurso de simpatia e nem escolha um candidato porque gostaria de tomar um chope com ele. Foi assim que muita gente votou em George W. Bush - respondeu Hillary.

Enquanto isto, Obama em seus comícios se compara a John Kennedy e Martin Luther King. Diz que é hora de mudar e que ele defende a "mudança na qual se pode acreditar":

- Minha candidatura se inspira em Martin Luther King, no que ele chamava de "a urgência do agora". Este é o ano da virada, em que Washington terá uma nova geração no poder. Aqueles que dizem que não tenho experiência gostariam que passasse mais tempo em Washington, para que eles pudessem me moldar e me transformar naquele político tradicional, para que pudessem roubar a minha alma. Mas é exatamente a minha distância de Washington aquilo que me define como um candidato fora dos vícios e da mesquinharia da política da capital.

Candidata ainda tem força nacional

Por este discurso, os anos de experiência de Hillary como senadora e o apoio que recebeu de dez senadores democratas viraram arma para identificá-la com o "sistema de Washington". Edwards pareceu reforçar este argumento no debate, ao deixar de apoiar os ataques de Hillary a Obama e até ao observar que ela não estava tão agressiva assim quando estava na frente nas pesquisas. Edwards sabe que ficou em segundo em Iowa por tirar votos de Hillary e pretende repetir o feito em New Hampshire.

- Eu e Obama sempre fomos a favor da mudança e só agora Hillary Clinton começa a falar nisto. Agora é tarde - alfinetou Edwards.

A contar pela aglomeração de estudantes nos comícios de Obama, pode ser tarde para Hillary também em New Hampshire. Mas ainda assim ela terá fôlego nos demais estados.

- Hillary é hoje a candidata democrata mais bem organizada para uma campanha nacional. Mesmo que ela fique em segundo em New Hampshire, terá condições de continuar a concorrer com chances de ganhar - avaliou Terrie Norelli, presidente da Câmara dos Deputados de New Hampshire.

www.oglobo.com.br/blogs/ny/