Título: Dilma na estrada
Autor: Luiz, Edson; Azedo, Luiz Carlos
Fonte: Correio Braziliense, 27/04/2009, Política, p. 02

Menos de 48 horas depois de anunciar tratamento contra câncer, ministra da Casa Civil retoma, hoje, em Manaus, a rotina de viagens ao lado do presidente Lula para participar de eventos do PAC

Dois dias depois de anunciar que está se tratando de um câncer, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, recomeça a rotina de trabalho, que terá na agenda uma longa viagem hoje a Manaus e, no fim de semana, ao Rio de Janeiro. Os dois compromissos são de interesse para o governo. No Amazonas, haverá o lançamento do plano de um programa ambiental, além de inaugurações. Além disso, será a primeira vez que a ministra participará de um evento oficial depois da revelação da doença, ocasião em que falará a prefeitos da região sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O outro programa está previsto para a sexta-feira, quando será feita a primeira coleta de petróleo da camada de pré-sal, na Bacia de Campos.

Ontem a ministra ficou em casa e não tinha pretensão de sair. A caminhada frequente pela manhã não ocorreu por causa da intensa chuva em Brasília. Mas, na semana passada, o gabinete de Dilma já preparava uma intensa programação, principalmente relacionada ao PAC, que começa hoje pela manhã. A viagem, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi definida há vários dias, antes de o petista ter sido informado sobre a doença da ministra.

A versão oficial de que Lula soube da doença somente na quinta-feira, quando foi informado do resultado da biópsia que constatou a existência do câncer, pegou os petistas de surpresa, pois a cirurgia para extrair o tumor havia sido feita há 30 dias. A preocupação em relação ao tratamento também gerou preocupações na cúpula petista, que teme um período de recuperação mais prolongado do que o anunciado pelos médicos: quatro meses.

No Palácio do Planalto, a assessoria de imprensa do governo confirma a versão de que Lula somente soube da doença três dias antes da entrevista da ministra e que recomendou a Dilma que imediatamente revelasse o tratamento quimioterápico à opinião pública para evitar especulações sobre a gravidade do problema.

Na cúpula petista, o discurso oficial é de que nada muda no PT em razão do tratamento a que a ministra será submetida para eliminar o surgimento do linfoma. Mas, nos bastidores, o ambiente é de apreensão em relação ao comportamento dos aliados, principalmente o PMDB e o PSB.

¿Dilma é a nossa candidata a presidente da República, não tem volta. Ela continua exercendo suas funções no governo e tem tempo para se recuperar até a campanha eleitoral de 2010¿, garante o líder do PT na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP). O petista considera natural que os aliados reajam com cautela à nova situação criada, mas considera difícil uma mudança radical no cenário eleitoral. ¿O PMDB não tem candidato próprio e a candidatura de Ciro no PSB não está consolidada¿, avalia.

O líder do PMDB no Senado, Romero Jucá (RR), afirma que, antes de se pensar no processo eleitoral, é necessário focar no tratamento da doença de Dilma, ressaltando que isso não vai refletir em 2010. ¿Não impacta (a doença) o processo eleitoral do próximo ano¿, avalia Jucá. Para ele, se for necessário a ministra pode diminuir o ritmo no governo.

Oposição Parlamentares da oposição também adotam a cautela sobre a eleição presidencial de 2010. Dilma chega a ser elogiada pelos adversários. A entrevista da ministra, segundo o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), foi um ato ¿corajoso¿. ¿Ela é uma mulher que tem uma história de luta¿, elogia Maia, afirmando que espera que Dilma esteja bem no próximo ano. ¿A nossa perspectiva, e o que esperamos, é que ela tenha se restabelecido e que esteja pronta para o debate em 2010.¿

O líder do PSDB na Câmara, deputado José Aníbal (SP), separa a doença da ministra de sua candidatura à sucessão de Lula em 2010. Amigo de Dilma desde os tempos da resistência ao regime militar, ele afirma que ela revelou coragem e confiança no sucesso do tratamento ao dar a entrevista sobre o assunto. ¿Torço para que Dilma recupere a saúde e mantenha suas atividades no governo¿, disse.