Título: De volta à ativa, Delúbio agora é divulgador
Autor: Souza, Isonilda
Fonte: O Globo, 08/01/2008, O País, p. 8

Ex-tesoureiro do PT entra no mesmo ramo que Marcos Valério e se torna sócio majoritário de empresa de publicidade

GOIÂNIA. O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares está pronto para voltar à ativa. Acusado de ser um dos articuladores do mensalão junto com Marcos Valério e ex-dirigentes petistas - em processo que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF)) -, Delúbio resolveu atuar justamente no ramo de Valério: o mercado publicitário. Segundo informações da Junta Comercial de Goiás (Juceg), o ex-tesoureiro é sócio majoritário da Geral.com Serviços de Divulgação Ltda.

A empresa, que também tem como sócia a amiga de Delúbio e professora da rede estadual de educação Delma Regina, é destinada à distribuição de propaganda comercial pelas ruas de Goiânia e pela internet. O ex-tesoureiro é dono de 95% da empresa e sua amiga detém os outros 5%. O escritório ainda está sendo preparado em duas salas conjugadas (de números 58 e 59) no segundo andar da Galeria Ipê, localizada na Avenida 85, uma das mais movimentadas do comércio da capital goiana.

Ex-tesoureiro esteve no escritório apenas uma vez

A nova atividade, no entanto, parece não tomar muito o tempo de Delúbio. Segundo a gerente administrativa da galeria, Marcilene Aparecida de Paula, o ex-tesoureiro esteve no local apenas uma vez, há cinco meses, num sábado, e em poucos minutos aprovou a escolha das salas. Delúbio não dá entrevistas e seu advogado, Celso Sanchez Vilardi, afirmou que não sabia nada sobre a empresa.

Em entrevista por telefone, Vilardi disse que precisava consultar seu cliente para depois falar sobre o caso e prometeu retornar a ligação. Garantiu, contudo, que o fato de o ex-tesoureiro figurar como réu no escândalo do mensalão não dificulta o novo negócio. O advogado não ligou de volta. Numa segunda tentativa de entrevista, sua secretária em São Paulo informou que Vilardi havia saído para uma reunião e não voltaria mais ao escritório.

Aluguel de sala sai por R$400 mensais

De acordo com a gerente administrativa da galeria Ipê, ninguém no escritório do condomínio tem contato com Delúbio. Segundo ela, foi a sócia do ex-tesoureiro, Delma Regina, que assinou em agosto o contrato de locação, no valor de R$400. Também foi Delma quem contratou uma arquiteta para cuidar da decoração do escritório.

- Pagam o aluguel em dia e um moço, que não sei o nome, vem aqui de vez em quando, mas não tem horário certo - disse a gerente.

Pessoas que entraram nas salas, disseram que o local conta com apenas dois computadores, duas mesas e telefones. Sem se preocupar com a divulgação da própria empresa, os sócios ainda mantêm em uma das portas a placa de uma operadora de turismo que antes funcionava na sala 59. Contas de energia elétrica e outras correspondências estão acumuladas, evidenciando que o escritório é pouco freqüentado.

Delúbio também freqüenta eventos políticos

A discrição dos donos é tanta que quase ninguém na galeria sabe de quem é a nova empresa. No prédio de três andares, funcionam lojas de roupas e outras salas comerciais. A gerente de caixa de uma lanchonete no térreo, Kênia Rodrigues, trabalha no local há dez meses e ficou surpresa com a notícia de que Delúbio era sócio da Geral.com.

- Conheço ele de jornais, mas nunca o vi pessoalmente. Ele vai trabalhar aqui? - perguntou, espantada.

Além da nova atividade como empresário, Delúbio ultimamente tem participado de eventos políticos em Goiás e até confidenciou a amigos que quer ser candidato a deputado federal em 2010. Nas aparições públicas, o ex-tesoureiro está sempre acompanhado do irmão, o vereador de Goiânia Carlos Soares (PT), e recusa-se a falar sobre possíveis pretensões políticas.

Mesmo sem atuar há anos no serviço público, ele também mantém o cargo de professor do estado. Delúbio foi condenado a devolver quase R$165 mil à Secretaria estadual de Educação, por receber sem trabalhar de setembro de 1994 a janeiro de 1998 e de fevereiro de 2001 a janeiro de 2005. O ex-tesoureiro foi alvo de processo administrativo do governo, aberto em junho de 2005, que pode levar a sua demissão, mas o julgamento está parado na Procuradoria Geral do Estado porque ele alegou cerceamento de defesa.

O Ministério Público de Goiás abriu inquérito para investigar retardamento ou omissão da Procuradoria na demissão de Delúbio.

- Ele pretende ser candidato a deputado federal, representando a classe dos professores, mas já deveria ter sido demitido - diz o promotor Fernando Krebs.