Título: Polícia acha obras de Picasso e Portinari furtadas em SP
Autor: Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 09/01/2008, O País, p. 8

Quadros levados em dezembro do ano passado, e avaliados em cerca de R$100 milhões, foram recuperados ontem à noite e dois suspeitos, presos. Museu reabre na sexta.

SÃO PAULO. A Polícia Civil de São Paulo recuperou ontem à noite as duas telas roubadas no último dia 20 de dezembro do Museu de Arte de São Paulo (Masp) - "O Lavrador de Café", de Cândido Portinari, uma das imagens mais populares da arte plástica brasileira, e "O Retrato de Suzanne Bloch", um quadro raro da fase azul do espanhol Pablo Picasso. As obras de arte são avaliadas em mais de R$100 milhões. Os peritos do Masp confirmaram que as obras recuperadas são originais e que não sofreram danos. As telas serão entregues ao Masp hoje, às 11h.

Dois suspeitos foram presos e levados para o Departamento de Investigações do Crime Organizado (Deic). A polícia procura uma terceira pessoa que teria encomendado o roubo. As telas foram encontradas numa casa em Ferraz de Vasconcelos, município a cerca de 40 quilômetros da capital paulista. Guardadas num dos quartos do imóvel, as telas estavam protegidas com uma capa.

A polícia ficou mais perto das telas há dez dias, quando prendeu Francisco Laerton Lopes Lima. Ontem, chegou a Robson de Jesus Jordão, preso quando andava no centro de São Paulo. Segundo a polícia, os dois são acusados de vários furtos e roubos. Jordão é foragido da Penitenciária de Valparaíso, no interior paulista. Ninguém foi encontrado na casa em Ferraz de Vasconcelos.

- Como eles não roubaram para eles, certamente tem um mandante (do roubo) - disse o diretor-geral da Polícia Civil de São Paulo, Maurício José Lemos Freire, em entrevista ontem à noite, ao lado do secretário de Segurança Pública, Ronaldo Marzagão.

A recuperação das telas foi confirmada pela polícia pouco antes das 21h. Na entrevista, que começou às 22h30m, Lemos Freire e Marzagão não deram detalhes da operação, alegando que essas informações poderiam prejudicar a investigação.

Quadros foram furtados em apenas três minutos

Os quadros foram furtados em uma ação que durou três minutos, deixando à mostra as falhas na segurança do museu mais importante da América Latina. As câmeras filmaram a entrada do grupo de ladrões mas, como são obsoletas, não produziram imagens de qualidade no escuro. As luzes do museu estavam desligadas por contenção de gastos. Foi impossível reconhecer alguém pelas imagens gravadas.

O sistema de alarme no Masp estava desligado. Um dos guardas, em depoimento à polícia, disse que o equipamento "vivia disparando". As portas das salas onde ficam as obras estavam abertas. E os quatro homens que faziam a segurança do prédio estavam no subsolo, esperando a troca de turno, no momento do furto das 5h09m às 5h12m.

O diretor do Departamento de Museus e Centros Culturais do Ministério da Cultura, José do Nascimento Júnior, anunciou ontem que o Masp obteve autorização da Comissão de Incentivo à Cultura do ministério para captar R$8,1 milhões pela Lei Rouanet. A verba deve ser usada na melhoria da infra-estrutura e da segurança. Fechado desde 20 de dezembro, data do furto, o Masp reabre para visitação na sexta-feira.

Do total anunciado por Nascimento, o Masp já captou cerca de R$3 milhões junto a duas grandes instituições nacionais, cujos nomes não foram divulgados. Isso porque a autorização para captar recursos foi dada em 1º de janeiro, mas só anunciada ontem. Desde 2003, o museu não tinha autorização para captar recursos pela Lei Rouanet devido a dívidas com o governo federal. Também estava com prestações de contas atrasadas com o Ministério da Cultura, o que foi regularizado.

O governo federal quer participar da gestão do Masp, conforme proposta feita pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 2004. Segundo Nascimento, essa parceria poderia melhorar a situação do museu.

Após reunir-se ontem com a procuradora Mariza Tucunduva, do Ministério Público de São Paulo, para fornecer dados que ajudem na investigação sobre a gestão financeira do Masp, Nascimento disse que a direção do museu nunca se pronunciou sobre a proposta de participação do governo federal:

- Não é que tenham negado. O fato é que não disseram nem sim nem não - disse o diretor, frisando que o governo voltou a procurar o Masp, após o furto das telas.

A diretoria da Masp informou que é simpática à idéia de participação, não só do governo federal, mas também do estado e do município.