Título: O fantasma do apagão de volta
Autor: Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 09/01/2008, Economia, p. 19

Diretor-geral da Aneel não descarta plano de racionamento de energia já este ano.

Odiretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman, afirmou ontem que não descarta a necessidade de um plano de racionamento de energia em 2008, caso se mantenha, até o fim de abril, o baixíssimo nível pluviométrico verificado neste início de período de chuvas, que se estende até abril. Na sua avaliação, que vem confrontando o discurso do Executivo, tem havido, nos últimos meses, mais frustrações que o esperado em relação à oferta de gás natural - necessário para o acionamento das usinas térmicas - e à geração de eletricidade pelas hidrelétricas. Por isso, defende, o governo deveria ser mais conservador e trabalhar num plano B, o que não acontece.

A falta de chuvas nas regiões Sudeste e Nordeste levou o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a acionar, a plena carga, as usinas térmicas, para poupar os reservatórios das hidrelétricas e manter a margem de segurança de todo o abastecimento brasileiro. As chuvas na primeira semana de janeiro ficam 55% inferiores à média histórica. Para Kelman, mantido esse ritmo, deverá ser exigido o funcionamento pleno das usinas térmicas este ano, por mais tempo do que o normal. O problema é que, como ocorreu em 2007, a Petrobras não tem gás natural suficiente para atender às termelétricas. Nessa hipótese - estiagem prolongada e insumo insuficiente - o país poderia ser levado a uma economia forçada. Só que este plano, diz Kelman, não existe hoje.

Ou seja, não há respostas para perguntas como: quanto deveria ser cortado de fornecimento, e por quem; quanto se economizaria; ou se haveria incentivo à economia de energia caso necessário, repetindo o erro de 2001.

- Não estou dizendo que vai ter o problema. Não é impossível ter racionamento este ano. O mais provável é que não tenha. Agora, acho que não precisamos, como em 2001, transitar de uma situação de céu de brigadeiro para uma de desastre. Acho que a sociedade não deve ser surpreendida por esses comportamentos. Parem com essa bobagem de ficar acobertando carro a gás, incentivando a indústria a usar gás natural, porque não tem (insumo para todo mundo) - afirmou Kelman.

Comitê se reúne amanhã para avaliar setor

O diretor-geral da Aneel fez uma analogia com a situação financeira de uma família. Para ele, "não faz sentido, se você entrou no cheque especial, não avisar a sua família para parar de comprar supérfluo". Ele acredita que a população deveria ser incentivada desde já a racionalizar o uso da energia no país.

Kelman explica que houve algumas frustrações no ano passado semelhantes às de 2001. Além do gás insuficiente, Itaipu tinha um planejamento de geração quando foi construída, que considerava cerca de 900 megawatts (MW) médios de energia, que serão reduzidos. A partir deste mês, o sistema elétrico deixará de contar com 400MW médios de Itaipu.

- Em 2001, o que aconteceu é que tínhamos um lastro falso. Tínhamos usinas que não produziam. Em 2007, nós tivemos lastro falso. Tivemos a TermoCuiabá, que parou de produzir. Tivemos Itaipu - disse Kelman, que tem encontrado resistências às suas posições dentro da própria Aneel e do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), que se reúne amanhã para avaliação periódica. Em dezembro, a sua proposta de "curva de aversão ao risco" (nível mínimo dos reservatórios) foi voto vencido.