Título: Morre mais um; para governo, febre amarela está sob controle
Autor: Éboli, Evandro; Carvalho, Ana Paula de
Fonte: O Globo, 10/01/2008, O País, p. 3

Empresário do Panará pode ser a terceira vítima da doença, mas Temporão descarta epidemia.

Apesar da morte no Paraná de um empresário que pode ser a terceira vítima fatal da febre amarela só nestes primeiros dias de 2008, o governo federal tentou ontem tranqüilizar a população. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, assegurou que a situação está sob controle e que não há risco de epidemia no país. Temporão negou que a doença tenha chegado às cidades e disse que não há risco de a febre amarela urbana retornar, depois de 66 anos. O último caso foi registrado em 1942. Mesmo assim, já começou a faltar vacina contra a febre amarela, e imensas filas formaram-se em postos de saúde de várias regiões do país.

- Essa história de que a febre amarela urbana voltou é uma mentira. Estou de corpo presente garantindo que não há qualquer chance de febre amarela urbana em todo o país. A situação está absolutamente sob controle. Não há risco de epidemia. O ministério e as secretarias estaduais e municipais estão monitorando, informando e vacinando - disse Temporão.

Em Brasília, porém, a família do técnico em informática Graco Abubakir, morto na terça-feira com sintomas de febre amarela, levantou ontem a suspeita de que ele tenha sido infectado na área urbana de Brasília. O governo negou com veemência, e manteve a versão de que Abubakir contraiu a doença ao viajar para Pirenópolis, em Goiás, no réveillon. O empresário Almir Rodrigues da Cunha, que morreu em Maringá (PR), na noite de terça-feira, passou o réveillon com a mulher e as duas filhas em Caldas Novas, outra cidade turística goiana. Na volta, foi internado com febre acima de 39 graus. O empresário, de 47 anos, ficou em Goiás de 20 de dezembro a 1º de janeiro e retornou com os sintomas.

O secretário de Saúde de Maringá, Antônio Carlos Nardi, adiantou que os sintomas apresentados pelo empresário são os mesmos de febre amarela, mas procurou acalmar a população da região de Maringá lembrando que o empresário esteve em Goiás, principal foco da doença. Amostras de sangue foram coletadas para exame e o resultado deve ficar pronto em até 20 dias.

Temporão disse que está se passando a impressão de que uma coisa muito nova e grave está ocorrendo, o que, segundo ele, não é verdade. O ministro disse que o estoque é suficiente e lembrou que o Brasil é o maior produtor da vacina contra a febre amarela.

No Distrito Federal, vários postos ficaram sem doses da vacina ontem, o que também ocorreu no Rio. Até no Palácio do Planalto o estoque acabou. O quadro se repetiu no posto do Ministério da Saúde, onde parte dos que procuraram o serviço não foram atendidos. Temporão reconheceu que faltou vacina, mas disse que no fim do dia o problema estaria resolvido. Ele anunciou que a Fiocruz pôs à disposição um lote de dois milhões de doses.

No final do dia, 250 mil doses chegaram ao Distrito Federal. O subsecretário de Vigilância em Saúde do DF, Joaquim Barros Neto, disse que o atendimento à população estará restabelecido na manhã de hoje. Temporão deu um recado às pessoas que se vacinam mesmo tendo tomado a dose há menos de dez anos:

- A vacina é eficaz durante dez anos. Quem se vacinou no período não deve se vacinar. É desnecessário.

Temporão disse que a situação no DF é singular, mas que não há necessidade de os moradores do Plano Piloto, área urbana central da cidade, tomarem a vacina, a não ser que viajem para áreas de risco. Joaquim Neto disse que há uma corrida desnecessária aos postos, e que servidores chegaram a ser agredidos por pessoas que não puderam ser vacinadas. Ele acusou a imprensa de causar pânico:

- O que está ocorrendo é o cúmulo. É uma corrida desenfreada. Não há motivo para pânico. Um número enorme de pessoas, que está vacinada e no prazo da validade, quer tomar a dose de novo.

Temporão explicou que as pessoas que vivem nos centros urbanos dos dezoito estados onde há áreas de risco só devem se vacinar se forem para regiões de mata.