Título: Lobão nega que vá ser o ministro do apagão
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 10/01/2008, O País, p. 11

Senador maranhense será indicado hoje pelo PMDB ao presidente Lula para a pasta das Minas e Energia.

BRASÍLIA. Um dia antes de ser indicado oficialmente pelo PMDB para comandar o Ministério das Minas e Energia, o senador Edison Lobão (PMDB-MA) evitou os holofotes. Mas não perdeu a oportunidade de alfinetar, ainda que indiretamente, a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que nos bastidores tentou barrar seu nome. Questionado diretamente sobre a possibilidade de ser o gerente de um colapso energético e ficar conhecido como "ministro do apagão", Lobão, que não tem experiência na área, foi contundente.

- Não é agradável para nenhum ministro ser conhecido como "ministro do apagão". Mas quem assumir agora, não terá responsabilidade direta num eventual colapso energético. O que ocorrer de bom ou de ruim vai estar relacionado ao período anterior na gestão do ministério. O novo ministro terá que planejar para o futuro. É assim que ocorre no setor energético - disse Lobão ao GLOBO.

Dilma comandou a pasta na primeira metade do primeiro governo Lula e até hoje influi na condução do setor energético. E nunca escondeu do presidente Lula nem dos políticos com quem conversa que preferiria manter uma equipe técnica no ministério.

"O importante para um ministro é saber administrar"

Sempre falando em tese, Lobão disse que não teria problema em assumir o comando da área energética. Ele tem formação de advogado e jornalista. O primeiro mandato de deputado federal foi no final dos anos 70, quando teve o apoio do general Ernesto Geisel. Governou o Maranhão no início dos anos 90.

- O cargo de ministro sempre é político. O técnico deve ser chamado para auxiliar. O José Serra foi um ótimo ministro da Saúde tendo formação de economista. Enquanto isso, o médico Antonio Palocci foi um dos melhores ministros da Fazenda. O importante para um ministro é saber administrar. Eu, por exemplo, já fui governador. Aliás, me interessei muito pelo tema energético neste período.

Curiosamente, entre os 41 pronunciamentos de Lobão na tribuna do Senado em 2007, dois alertaram para o risco concreto de um apagão energético, fato negado ontem pelo ministro interino das Minas e Energia, Nelson Hubner. Lobão diz que passou a seguir mais de perto o tema ao se aproximar do "Instituto Acende Brasil", recentemente.

Ontem, Lobão circulava pelo Senado sem esconder o sorriso. Com o cabelo cortado, pintura retocada na cor acaju, terno e gravata novos, era cauteloso ao falar de sua indicação. Mas costurou os ajustes do encontro de hoje de Lula com a cúpula do PMDB. Falou por telefone com o senador José Sarney (PMDB-AP), seu padrinho político, e esteve com o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN).

Com a indicação, Lobão supera obstácu5los para chegar ao primeiro escalão: a resistência de Dilma, a rejeição por ser "cristão novo" no PMDB, e o fato de não ter formação ligada à área.

O trunfo de Lobão para neutralizar as restrições é Sarney, seu maior avalista, que estará hoje na reunião com Lula. Aos 71 anos, Lobão foi do ex-PFL por décadas - só trocou de partido no final de 2007.