Título: À espera das águas de janeiro
Autor: Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 10/01/2008, Economia, p. 21

Para especialistas, é preciso plano para racionalizar uso de energia se não chover no mês.

Oprazo máximo para as chuvas chegarem com regularidade antes que o governo lance um plano responsável de racionalização do uso da energia é o fim de janeiro. Esta é a opinião de técnicos e especialistas do setor, para os quais, quanto mais tempo passar, maior terá de ser a economia forçada de eletricidade em caso de situação realmente crítica, como ocorreu no ano passado. No apagão de 2001, o consumo de energia foi cortado em 20%.

- Se chegar ao fim de janeiro e não chover de forma suficiente, depois das análises técnicas, não há como o governo não lançar uma campanha de racionalização de energia - disse o presidente da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace), Lindolfo Paixão.

Mesmo refutando a hipótese de apagão, o ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner, deu a entender ontem que o mercado tem razão ao considerar o fim de janeiro ou "meados de fevereiro" a data-limite para se diagnosticar exatamente a situação de abastecimento:

- Se nós sentirmos no fim do mês que está muito pior, que está com muito menos chuva, que estamos caminhando para um dos piores períodos da História.... se acontecer alguma coisa assim, aí nós vamos tomar as medidas.

Uma experiente fonte do setor, que vivenciou de perto o racionamento entre junho de 2001 e fevereiro de 2002, concorda com os empresários: o custo de se atrasar decisões de economia é uma redução de consumo de energia mais significativa adiante.

Técnicos sugerem reajustar GNV

Ele explicou que janeiro, fevereiro e março são os meses em que mais chove no país. Em abril, o índice pluviométrico costuma cair. Mas nos primeiros oito dias de 2008, choveu o equivalente a 48% do volume médio para o período nos últimos 76 anos em que o sistema é medido. O técnico avaliou que, se o quadro não mudar até o dia 31, o governo deve implementar medidas de contingenciamento imediatamente.

Tanto para o mercado quanto para os técnicos, há um conjunto de ações de baixo impacto para a sociedade que ajudaria a prevenir um apagão. A primeira delas é uma campanha de uso racional da eletricidade, orientando os consumidores a tomarem medidas, como diminuir o tempo do banho, caso o chuveiro seja elétrico.

- O desperdício é óbvio, as pessoas deixam as lâmpadas ligadas. A primeira providência é uma posição filosófica do consumidor, que gasta dinheiro com a conta de luz - defendeu Lindolfo Paixão.

Do lado técnico, as ações deveriam ser voltadas a poupar gás para o uso das termelétricas, que têm de ser acionadas quando os reservatórios das hidrelétricas estão muito baixos. A Petrobras não tem insumo suficiente para acionar todas as térmicas. Cerca de 3 mil megawatts a mais de energia poderiam ser gerados, segundo especialistas, se houvesse disponibilidade de gás hoje.

Para liberar esse gás, a sugestão dos técnicos é que a Petrobras substitua o combustível pela nafta para fazer funcionar suas refinarias. Em 2007, a estatal consumiu em suas unidades de exploração e produção, em média, 7,9 milhões de metros cúbicos por dia (m/d) de gás natural, de um total de 49,39 milhões(m/d) no país.

Outra medida seria aumentar o preço do gás natural veicular (GNV), privilegiando o uso térmico. Também é defendido que a Petrobras corte o fornecimento às distribuidoras do volume de gás que não está contratado.

Paixão alertou ainda que o crescimento econômico do país precisa estar amarrado à expansão do sistema elétrico, ponderando que o Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) foi lançado sem essa preocupação.