Título: PMDB emplaca Lobão
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 11/01/2008, O País, p. 3

Partido evita confronto com Dilma e abre mão de ter Minas e Energia "de porteira fechada".

Em encontro com a cúpula do PMDB na noite de ontem, no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou que indicará o senador Edison Lobão (PMDB-MA), afilhado político do senador José Sarney (PMDB-AP), para o Ministério de Minas e Energia, na próxima semana. Para garantir a indicação do ministro, o PMDB teve que recuar de suas pretensões de ocupar todos os cargos da pasta, no que é conhecido no jargão político como "ministério de porteira fechada". A chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ex-titular das Minas e Energia, pressionava pela manutenção de nomes de perfil mais técnico.

Coube ao presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), iniciar o assunto, apresentando o nome de Lobão como a opção do partido para o cargo antes ocupado por outro apadrinhado de Sarney, Silas Rondeau. Segundo disse Temer no encontro, o nome de Lobão contava com apoio de toda bancada do PMDB no Senado. Lula respondeu que chamará o senador ao Planalto na próxima quarta-feira, quando retornar de viagem a Cuba e Nicarágua, para fazer o convite.

No encontro, de cerca de 50 minutos, Lula e os peemedebistas não trataram de cargos no segundo escalão do ministério nem do comando das estatais do setor elétrico. Foi lembrado ao presidente Lula uma reivindicação antiga da bancada do PMDB mineiro de indicar Jorge Zelada para a diretoria Internacional da Petrobras. Lula não decidiu sobre isso, mas determinou uma avaliação do currículo do indicado ao ministro José Múcio (Relações Institucionais), que também participou da reunião, segundo o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves.

Além de Sarney e Temer, participaram do encontro com Lula os senadores Garibaldi Alves, presidente do Senado; Romero Jucá (RR), líder do governo no Senado; e Valter Pereira, vice-líder do PMDB no Senado.

- O nome já está certo, o presidente chamará o senador Lobão na quarta-feira, assim que voltar da viagem. Foi bem recebida a indicação do partido. E o próprio presidente Lula reconheceu que não dá mais para ficar com o ministério na interinidade - disse Henrique Alves.

PMDB queria todos os cargos do setor

Para evitar o confronto direto com a ministra Dilma Rousseff, a cúpula do PMDB abriu mão da exigência original de assumir a pasta com "porteira fechada". Com a atitude, abriu espaço para a negociação de nomeações técnicas para cargos estratégicos do ministério. O partido quer a maior parte do comando das estatais do setor elétrico, mas teve de aceitar dividir com o PT algumas dessas funções.

A posição do PMDB foi fechada pouco antes do encontro com Lula, em reunião reservada do comando do partido, na sede da presidência do PMDB, na Câmara. Estavam presentes Sarney, Garibaldi , Temer e Henrique Eduardo Alves. Depois, o grupo seguiu para o Planalto, onde ainda aguardou uma hora para estar com Lula.

- O PT tem cargos importantes no Ministério de Minas e Energia e no setor elétrico, que serão mantidos. Até porque queremos manter uma boa relação com o PT. Primeiro, vamos resolver o principal, que é a nomeação de Lobão. Os demais cargos vamos definir depois, com a posse de Lobão - confirmou Henrique Alves.

Temer reforçou o discurso conciliador:

- O debate sobre porteira fechada não prosperou. Até porque nenhum setor do governo tem esse perfil de porteira fechada.

Inicialmente, o PMDB queria todos os cargos da pasta e do setor energético. A mudança de tom foi uma forma de amenizar a disputa Dilma Rousseff que tentou vetar a indicação de Lobão. Nos bastidores, ela sempre defendeu uma indicação técnica para o ministério. Seu argumento ganhou força no núcleo do governo nos últimos dias, diante do risco de racionamento ou apagão elétrico no país. Com isso, o PMDB foi obrigado a fazer uma composição.

Até ontem, o partido insistia em nomear os novos presidentes da Eletrobrás e da Eletronorte, além da diretoria internacional da Petrobras. Mas aceitava ceder o comando da Eletrosul e de diretorias em todas as estatais. O próprio Lobão admitia, ontem, que os demais cargos do ministério seriam indicações com perfil técnico negociadas com o Planalto. Estava disposto a negociar o cargo de secretário-executivo, o segundo mais importante na hierarquia da pasta. A Secretaria de Planejamento Energético também deverá ser preservado de indicação política. Em vez do confronto, Lobão foi conciliador, ontem:

- Não pode haver loteamento político do ministério. O correto é fazer uma composição com nomes técnicos. Agora, o sentimento no PMDB é de que haja mais acesso do partido aos cargos do ministério. Não se vai trocar todos os cargos. Se tirar um técnico bom, será colocado outro igual ou melhor. Qual é o mal que há nisso?