Título: Governo anuncia plano para evitar racionamento
Autor: Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 11/01/2008, Economia, p. 23

De imediato, seis usinas termelétricas a óleo serão acionadas para aumentar a oferta de energia e, em fevereiro, uma a gás

BRASÍLIA. Mesmo descartando risco de racionamento diante da escassez de chuvas, o governo decidiu adotar medidas preventivas para poupar os reservatórios das hidrelétricas sem reduzir a oferta de eletricidade no país. Afirmando que já está mirando 2009, o ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner, informou que serão acionadas imediatamente seis usinas termelétricas movidas a óleo na Região Sudeste, com geração inicial de 800 megawatts (MW), podendo chegar a 1.200 MW.

Em meados de fevereiro, serão acionados mais 1.000 MW na mesma área, desta vez da térmica de Macaé (Norte Fluminense), movida a gás. A ligação será possível porque o gasoduto Cabiúnas-Vitória ficará pronto, elevando a oferta em 5,5 milhões de metros cúbicos/dia.

Além disso, ficou acertado na reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) que a Petrobras - representada por sua diretora de Gás e Energia, Maria das Graças Foster - vai estudar como pode racionalizar o uso de gás em suas refinarias.

Apesar de considerar o diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman, e o mercado equivocados na avaliação de que o racionamento não é impossível este ano, na prática o CMSE adotou um plano antes que janeiro terminasse e a situação fosse considerada emergencial. Só que, em vez de se concentrar na demanda (aumentando preço do gás para carros ou fazendo campanha por economia de luz), a opção foi aumentar a oferta de eletricidade pelas termelétricas.

A decisão de preservar a demanda tem caráter político. Em ano eleitoral, incentivando investimentos privados, prometendo um canteiro de obras e a forte expansão da economia, o governo não quer arcar com medidas que onerem consumidores e setor produtivo.

- Na reunião de hoje (ontem), decidimos antecipar o despacho de térmicas a óleo para permitir que essa transferência de energia que está sendo feita do Sudeste para o Nordeste não comprometa os reservatórios do Sudeste. Não se falou na possibilidade de racionamento. Nossa posição é adequar a oferta, mantendo sempre a visão de que 2009 seja adequadamente atendido - explicou Hubner.

E completou:

- A preocupação foi levantar todas as possibilidades de oferta adicional de geração de energia de forma a não comprometer o ano de 2009. De forma que, mesmo que a gente evolua para um período hidrológico muito crítico (seca forte), tenhamos segurança para o suprimento do país não só para 2008, como para 2009.

Segundo o governo, o impacto do acionamento - já que a energia térmica é mais cara - na conta de luz do consumidor será residual.

A troca de insumos pela Petrobras em seus processos de exploração e produção é uma ação que pode ajudar a liberar gás para gerar, se necessário, os 1.800 MW ainda não solicitados às térmicas. Segundo o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, o país contava ontem com 4 mil MW de térmicas que não estão sendo usadas. Ontem, foram acionados 2,2 mil MW.