Título: Aliados ameaçam rebelar-se
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 12/01/2008, O País, p. 3

Partidos da base aumentam pressão sobre o Planalto por cargos.

BRASÍLIA. Nos últimos dias, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, passou a ser advertido, quase em tom de chantagem, pelos aliados do governo Lula: ou libera a maior parte dos cargos de segundo e terceiro escalões já reivindicados pelos partidos, ou o Palácio do Planalto enfrentará uma crise de governabilidade a partir de fevereiro no Congresso Nacional. A pressão aumenta a partir da definição de mais um ministério para o PMDB, com a escolha de Edison Lobão para as Minas e Energia.

Múcio estuda dezenas de currículos enviados pelos partidos

De posse de uma lista com quase cem pedidos, José Múcio passou a correr contra o tempo para tentar mudar o clima de insatisfação nos partidos da base aliada. Ele já começou a analisar dezenas de currículos encaminhados esta semana. A ordem é tentar resolver o maior número possível de pendências até o final de janeiro. Ele também já estabeleceu um critério de prioridade.

- O governo é o mesmo, mas o Congresso é outro. Essas providências estão represadas há quase um ano e precisam ser atendidas. E serão. Mas a prioridade será atender o que é consenso. O que está em disputa demandará um pouco mais de tempo - ressaltou Múcio, referindo-se a casos de um mesmo cargo disputado por vários partidos.

O Planalto reconhece que a distribuição de cargos tornou-se mais urgente diante da insatisfação de todos os partidos governistas com o pacote de aumento de impostos e com a ameaça de cortes no Orçamento deste ano.

Os partidos menores da base aliada também querem muitos cargos. E polêmicos. Os líderes do PR ameaçam perder a paciência com a demora na indicação do ex-governador do Ceará Lúcio Alcântara para um cargo de prestígio nacional - a presidência da Chesf.

O líder do PR, deputado Luciano de Castro, afirmou que a prioridade para cargos nacionais do partido é a presidência da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), além do comando das principais unidades regionais do DNIT, as Units. Para Castro, o ministro José Múcio precisa ter carta branca para resolver as pendências.

- Nós sonhamos com a solução (para os cargos). O Múcio é um homem determinado, obstinado e de credibilidade no Congresso. O presidente Lula precisa dar ao Múcio autoridade maior para que ele consiga manter a base na Câmara e criar uma base aliada no Senado - alertou Luciano Castro.

"Não é faca no pescoço. As bancadas pensaram no país"

No PP, a insatisfação também é geral. O partido quer "verticalizar" o Ministério das Cidades, comandando os postos da pasta. Mas o líder do partido na Câmara, Mário Negromonte (BA), não consegue nem nomear o afilhado Nilo Meira Filho para a superintendência do BNB na Bahia. - Não é faca no pescoço, mas está na hora de regularizar a situação. As bancadas não vincularam as indicações às votações, e pensaram primeiro no país - argumentou Mário Negromonte.

Ele cita o caso da diretoria da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) no Ceará, que será indicada pelo deputado Eugênio Rabelo (PP-CE) e tem o apoio de outros partidos da base. Há acordo, enfatiza o líder, e mesmo assim a indicação não sai, o que provoca queixas e ameaças por parte dos deputados.